quarta-feira, 23 de abril de 2025

Coluna Luna Solis 09: Personagens que sofreram grandes reviravoltas!

Publicado em 4 de abril de 2022, às 9:02

         Muitas histórias na literatura têm a capacidade de nos apresentar ao longo de sua jornada personagens cativantes e que muitas vezes nos conquistam ainda em sua primeira aparição. Seja a partir de uma primeira impressão positiva ou às vezes negativa, é inegável que os personagens podem (e devem) refletir as pessoas no mundo real e isso acaba incluindo personagens que muitas vezes acabam conquistando a antipatia do público em um primeiro momento e somente no clímax da narrativa é que somos levados a entender suas motivações – fato que contribui para que só então ele/ela conquiste nossos corações.

        Muitos personagens são inicialmente apresentados ao público como um vilão e que com o desenrolar da trama conquistam a antipatia do público, mas é muito comum que autores próximo do fim da narrativa revelem um grande acontecimento que marca a “virada do personagem” ou um “ponto de virada” na trama, que faz com que o público finalmente comece a gostar do personagem e até a defender atitudes anteriores do até então “vilão”.

        Após a “grande revelação”, o vilão é agora tratado como um anti-herói e o personagem antes visto como “mau” passa a ser visto como “um mocinho mal compreendido”. Contudo, nem sempre esses “pontos de viradas” são positivos para o personagem em si (sim, ele conquistou o carinho do público), mas é quase certo que logo em seguida da “grande revelação” nós iremos perder o personagem para alguma morte trágica. E o personagem vai de vilão para anti-herói para então ser enterrado como herói, pois é comum autores usarem desse subterfúgio para fazer com que o público se emocione com a morte do suposto vilão.

         Um personagem famoso que passa pelo “ponto de virada” para literalmente morrer como um herói é Severo Snape. O professor ranzinza que atormentou a vida do protagonista Harry em todos os 7 livros da Saga Harry Potter e que passa toda a narrativa descontando suas frustrações e seu ódio por Tiago Potter no filho do rival, no final é revelado como um duplo espião que trabalhava para Dumbledore passando informações valiosas sobre Voldemort para a Ordem da Fênix e que fazia de tudo para proteger o filho da mulher que amava. É claro, a descoberta de que Snape, o homem que matou Dumbledore era inocente e a morte do diretor havia sido orquestrada pelos dois, veio seguida da morte do professor poções. No epílogo “19 anos depois”, descobrimos que ele não só morreu como um “herói de guerra”, mas que o próprio Harry havia o homenageado ao dar para seu segundo filho o nome de “Alvo Severo Potter” e ainda o engrandecer como “o homem mais corajoso que já conheci”.

         Outro personagem que sofre do mesmo mal é Itachi Uchiha, do mangá e anime Naruto, que nos é apresentado como um grande vilão sendo o responsável por um dos maiores genocídios da obra, tendo matado todo o seu clã, incluindo o pai e a mãe. O único sobrevivente, Sasuke Uchiha, irmão mais novo dele, é colocado pelo “vilão” em uma ilusão onde ele presencia Itachi matar o clã deles incontáveis vezes, colocando Sasuke em um coma. Tendo apenas o ponto de vista de Sasuke por boa parte da história, o público logo passa a enxergar Itachi como nada mais que um vilão e torce para que Sasuke consiga enfim sua vingança. Quando a fatídica luta entre os irmãos finalmente acontece (provavelmente uma das lutas mais aguardadas pelos fãs) o público torce por Sasuke, mas quando o vilão morre em uma das cenas mais emblemáticas de Naruto, o público e o próprio Sasuke percebe que tem algo errado nessa história. Na cena seguinte, somos apresentados ao passado de Itachi e os motivos que o levaram a se transformar em um vilão para salvar a vila de uma guerra civil orquestrada por seu clã e, principalmente, para proteger a vida do irmão que amava.

           O personagem Maven da saga “A Rainha Vermelha”, de Victoria Aveyard, é um daqueles que divide muitas opiniões entre os fãs; tendo aqueles que o amam e os que o odeiam. A própria trama do primeiro livro possui uma reviravolta que o coloca como o grande vilão da história, tendo enganado a protagonista Mare se mostrando como um rapaz amigável em um primeiro momento, mas que na verdade desejava o poder a todo custo. A partir daí, Maven passa a perseguir Mare e todos os outros sangue-novos como ela se tornando o novo Rei de Norta. Muitos fãs até hoje se sentem verdadeiramente frustrados com o plot twist envolvendo o personagem, que o consideram um “injustiçado”, incompreendido e que foi manipulado por sua mãe, uma vez que ele se tornou um grande vilão odiado, mas que teve sua redenção ao fim da trama se sacrificando a até se arrependendo de suas atitudes.

         Uma personagem feminina que passa longos três livros tendo atitudes mesquinhas, arrogantes e abusivas não apenas com a protagonista, mas com qualquer outra mulher que conquiste a atenção do príncipe, é Celeste Newsome, da saga A Seleção, de Kiera Cass. Em “A Seleção”, 35 garotas disputam o coração do Príncipe Maxon, herdeiro do trono de Illéa, mas somente uma levará a coroa. Celeste Newsome, uma modelo famosa e da casta mais alta abaixo da realeza, faz de tudo para conseguir subir ao trono: ela arma para outras candidatas serem expulsas, tenta seduzir o príncipe para levá-lo para cama antes do casamento e acelerar o processo da seleção, humilha e até chega a agredir outras mulheres, e sua antipatia parece ainda maior quando dirigida à América – a favorita do príncipe. Depois de dois livros inteiros convivendo com uma personagem intragável e sem o mínimo de empatia do público, Kiera Cass resolve finalmente “humanizar” a personagem, nos revela suas motivações e suas preocupações, cria uma amizade entre a ex-vilã e a protagonista, faz a modelo se desculpar com todas as pessoas que fez algum mal e quando o público abraçou e perdoou Celeste por suas ações passadas, a autora nos faz questão de tirar Celeste de uma forma abrupta e sem compaixão. E de uma cena para outra, assim: do nada, Celeste perde a vida em um tiroteio no palácio, sendo a primeira baixa da invasão. Mais tarde, nos próximos livros, é revelado que América, agora rainha de Illéa, renomeou o Salão das Mulheres no palácio que agora carrega o nome da amiga: A Biblioteca Newsome.

          Mas se o personagem sofreu um “ponto de virada” e não morreu logo em seguida e esse personagem é um homem e principalmente um que implicou ou fez coisas terríveis com a protagonista feminina, é quase certeza que a partir da “virada do personagem” ele vai virar o interesse amoroso da mocinha.

          A construção de um romance em uma narrativa é algo mais complicado do que parece, e muitas vezes os autores se utilizam desse elemento para dar ainda mais drama à história do casal, apresentando aquele ou aquela que será o futuro interesse romântico do/da protagonista como alguém desinteressado em um primeiro momento. Esse tipo de interação pode ser encontrado na famosa trama feérica “Acotar”, de Sarah J. Maas. Muitos leitores se sentiram “enganados” com o envolvimento da protagonista Feyre com Tamlin, com quem todos acreditavam ser seu par romântico final, e após a introdução de Rhysand tudo muda de figura. O “Grão-Senhor mais poderoso de Prythian” é introduzido como um feérico sombrio, do qual todos sentem o mais puro terror. Feyre se sente imediatamente atraída por ele, mesmo após suas atitudes duvidosas e até hostis em alguns momentos, só entendemos as motivações de Rhys a partir do segundo livro, quando somos apresentados ao seu passado e das razões que o levaram a se comportar com frieza e do quanto fazer aquilo o afetava profundamente, tudo para salvar seu reino e seu povo.

           O mesmo acontece em “O Príncipe Cruel”, de Holly Black, onde temos mais um par romântico da protagonista, apresentado inicialmente como alguém asqueroso e merecedor de antipatia. De fato, muitos leitores não gostavam nada da forma como o príncipe Cardan tratava a protagonista Jude, fazendo questão de demonstrar sua antipatia pelos humanos através dela, chegando até mesmo a chutar terra em sua comida. Isso chegou e levantar hipóteses de um possível romance tóxico entre os dois, uma vez que romance não é exatamente o foco da trama de Black e o relacionamento dos dois é basicamente regrado a “migalhas” ao longo da trilogia, tendo um desfecho após uma série de acontecimentos que envolvem o passado conturbado de Cardan com a sua família, eventos estes que acabaram se refletindo no seu comportamento nada convidativo e agradável.

         Isso muitas vezes acontece principalmente por conta da verossimilhança dessas características com pessoas reais que interagimos e conhecemos. Essa proximidade com a realidade faz com que o leitor até se identifique com aquele determinado personagem e se sinta tocado por sua história, mesmo que em um primeiro contato “desagradável” e até repulsivo.

         Muitos personagens iniciam a trama conquistando a antipatia do público, mas sempre existe aquele personagem que alcança o “perdão” e o amor do público devido a alguma grande revelação sobre o passado dele, em que o autor nos informa que, na verdade, o vilão não era tão vilão assim. E assim o personagem, antes odiado, passa a cativar o público.

Dicas para criar uma reviravolta para um personagem:

  • De preferência, dê um passado conflituoso para o personagem. Lembre-se de que ele precisa ter motivos para ser como é.
  • O plot twist precisa acontecer no momento certo ou até no clímax da história para condizer com as ações desse personagem
  • Pense bem se esse personagem merece ou deve ter uma redenção. Os atos dele(a) até aqui justificam isso?
  • Muitos gostam da reviravolta do “vilão que se apaixona pela mocinha”, mas cuidado para não cair em clichês
  • Uma boa reviravolta deve fazer com que aquele personagem seja complexo o suficiente para que o público o odeie e o ame amo mesmo tempo

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