domingo, 1 de dezembro de 2024

ENTREVISTA: Elicleia Clarícia, Janaína Amorim e Samanta Matos – “A LUTA FEMINISTA SE PAUTA NA CONQUISTA DE DIREITOS”

Publicado em 8 de março de 2022, às 8:55
Fonte: Da Redação
Elicleia Clarícia, Janaína Amorim e Samanta Matos fazem parte da AFIM, entidade que luta pelos direitos das mulheres em Imperatriz.

Região Tocantina – Para a AFIM, qual é o sentido do 08 de março?

Elicleia Clarícia, Janaína Amorim e Samanta Matos – De maneira simples e resumida, pode-se dizer que é uma data para lembrar das conquistas adquiridas com muito esforço das que vieram antes de nós e, principalmente, um dia para reforçar a luta pela dignidade e direitos das mulheres e meninas que ainda precisamos conquistar em todo o mundo, englobando várias questões socioeconômicas, políticas, culturais e ambientais que são prejudicadas pelo sistema patriarcal e capitalista.

Região Tocantina – Que desafios existem ainda hoje para as mulheres?

Elicleia Clarícia, Janaína Amorim e Samanta Matos – Todos os dias precisamos reafirmar que merecemos respeito e equidade. Ainda não temos o direito pleno ao nosso próprio corpo, decisões ou vontades sem sermos muito questionadas, coagidas ou até proibidas e nem nos sentimos seguras e tranquilas em espaços públicos – muitas vezes até dentro de casa ou no trabalho – e ainda sofremos violência, seja física, psicológica, moral, sexual e/ou patrimonial, tudo isso só pelo fato sermos mulheres.

Região Tocantina – A AFIM tem uma história de lutas em Imperatriz. Podem elencar algumas ações?

Elicleia Clarícia, Janaína Amorim e Samanta Matos – Já realizamos estudos sobre O que é Feminismo, o Cine AFIM com exibição de filmes com a temática voltada para a realidade das mulheres, sendo as sessões exibidas no teatro, UFMA ou UEMA. Realizamos também Rodas de Conversa sobre Violência Doméstica e Lei Maria da Penha no Bairro Caema e IFMA, piqueniques, orientações com psicóloga para professores do ensino médio sobre identidade de gênero, minicurso Mulheres na Ciência, palestras sobre como a mulher é representada na mídia, bloco carnavalesco Maria VEM com as outras. Organização ou participação em conjunto com outras entidades de mulheres em atos públicos como o Ele Não, Pelo Fim da Cultura do Estupro, o Oito de Março, entre outros.  Também já tivemos duas representantes que fizeram parte do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. As ações mais recentes foram as Oficinas de Escrita Criativa para Mulheres, as lives-saraus durante a pandemia, a campanha de arrecadação de absorventes e o lançamento da Cartilha de Combate ao Assédio Sexual no Trabalho, essa última é o resultado da dissertação de mestrado da jornalista e mestra em comunicação Janaína Amorim, que é membra do grupo. Para ter acesso à cartilha basta acessar o link da bio do nosso Instagram – @afim.itz.

Região Tocantina – Qual é o maior entrave para um equilíbrio real entre mulheres e homens?

Elicleia Clarícia, Janaína Amorim e Samanta Matos – Não sabemos se há uma resposta certa ou definitiva para isso. Por ora, em resumo, achamos que falta nos homens o interesse verdadeiro em ouvir e se interessar pelo que as mulheres estão dizendo, falta reconhecerem seus privilégios e agirem de maneira diferente em todas as áreas da vida (nas relações afetivas e sexuais, na família, no trabalho, no meio acadêmico, redes sociais, na religião, na política, entre amigos e etc), tendo consciência também de que esse sistema patriarcal subjuga não só mulheres e meninas, mas por muitas vezes até eles mesmos. Falta a compreensão de que a mulher é um ser humano e tem direitos sobre si e suas escolhas. Sobre o interesse, por exemplo, não sei qual será o título dessa entrevista, mas pela temática você acha que (se não houver um direcionamento ou estratégia) serão mais homens ou mulheres a clicarem no assunto?

Região Tocantina – Qual é a concepção da luta feminista hoje em dia?

Elicleia Clarícia, Janaína Amorim e Samanta Matos – Atualmente não falamos em Feminismo, mas sim em Feminismos, no plural. Existem algumas vertentes e muitas batalhas a serem travadas pelas mulheres no mundo inteiro. Até o momento, a vertente que a maioria de nós da AFIM se identifica é o Feminismo Interseccional. Então para nós a luta feminista se pauta na conquista de direitos, emprego digno, igualdade salarial, direitos trabalhistas que atendam às necessidades das mulheres, liberdade sexual e reprodutiva, conquista dos espaços de poder político e econômico, vida sem fome, moradia digna, saúde pública e universal, acesso à educação, a creches e uma vida e sem violência – física, emocional, patrimonial, psicológica – para as mulheres e meninas de todas as raças, etnias, credos, orientação sexual e classes sociais. Nessa luta contra o sistema machista, patriarcal e capitalista também nos aliamos a outros movimentos: preservação do meio ambiente, o combate ao fascismo, ao racismo, ao extermínio de povos originários, combate à homofobia, à transfobia, ao capacitismo, à intolerância religiosa, à criminalização da pobreza e ao extermínio da juventude negra. No final das contas,  isso não fica só nas mulheres. Essas ações perpassam por toda a sociedade, chegam nos filhos, parentes, companheiros, amigos e etc. Nos resultados almejados dessa peleja não há perdedores, apenas ganhos para todas as pessoas.

Região Tocantina – Como está o Brasil, em relação a outros países, no que se refere às lutas das mulheres?

Elicleia Clarícia, Janaína Amorim e Samanta Matos – Temos a Lei Maria da Penha de combate à violência contra a mulher que é referência internacional, porém na prática ainda está muito longe do que se propõe. O Brasil é um país subdesenvolvido de dimensões continentais em que ainda persistem violações de direitos humanos que muita gente acha que só acontecem em alguns países árabes ou na parte extremamente pobre do continente africano. Os índices de exploração sexual, casamento infantil, estupro de vulnerável cometido por familiares e violência doméstica em cidades do interior, ou até em grandes centros urbanos, ainda é altíssimo. Somos um país democrático em que a representação das mulheres no executivo, legislativo e judiciário é ínfima e isso reflete diretamente na criação de leis e de políticas públicas que amparem as mulheres. E quando se fala em mulheres negras e pobres esses índices só pioram.  Então, podemos dizer que, no que se refere à luta das mulheres, enquanto têm países se arrastando, outros deram passos largos, no Brasil ainda estamos engatinhando. Ainda somos um país muito racista, sexista e misógino.

Região Tocantina – Como vocês veem o futuro da luta por igualdade?

Elicleia Clarícia, Janaína Amorim e Samanta Matos – Olhando para a luta das mulheres que nos antecederam, onde estávamos e aonde chegamos, reconhecemos e desfrutamos do que já foi feito por todas. Vemos um futuro repleto de lutas, pois ainda há muito a ser feito para podermos alcançar a equidade e um mundo mais justo para todos. E sabemos que conseguir isso não será da noite para o dia, mas na lida diária, sempre dialogando e nos posicionando, seja em casa, na rua, no trabalho, na mídia, na política e em outros espaços de poder.

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