sexta-feira, 22 de março de 2024

De contos, causos e oralidades – Eu tô é tu!

Publicado em 23 de janeiro de 2022, às 10:28
Imagem: Issu

Se tem uma coisa que eu carrego com muito orgulho pra onde quer que eu vá, é o meu sotaque maranhense. Ou melhor: ludovicense, que é o sotaque de São Luís, cidade onde nasci.

Lembro que lá por 2005, morando já na Alemanha, eu e minha família viajamos ao Brasil pra visitar familiares e pessoas amigas. Na época, tomamos um voo que saía de Luxemburgo, parava em Lisboa, Rio, Porto Alegre, seguia para Buenos Aires e lá se transformava em outro voo, que voltava para São Paulo. Por incrível que pareça, por ter tantas paradas, saía mais barato que um voo direto de Frankfurt para São Paulo. Aceitamos porque estávamos de férias, e quando se está de férias não se tem pressa para nada. Também, claro, porque era mais barato.

Em Buenos Aires, no aeroporto, na fila da conexão, eis que a vida nos põe bem atrás de duas mulheres jovens, classe média, que vinham conversando de boas, achando que naquela fila só tinha gringo e que ninguém ali entendia português. Pela minha aparência, ou elas acharam que eu era argentina, ou de algum outro país latino-americano onde se fala espanhol.

Uma delas era baixinha, usava óculos e se parecia muito com a Velma, personagem daquele desenho Scooby-Doo. A outra era esbelta, morena, cabelo preto, liso, estatura mediana. A morena contou para a Velma que havia passado uns quatro dias em Buenos Aires e que agora estava indo para São Paulo. A Velma comentou: “Nossa, como tem tanto gringo aqui hoje, né? A gente querendo ir para a Europa e eles todos querendo vir para cá, pode?” E a morena disse: “Menina, pois não é? E tu é de onde?”. E a Velma: “Porto Alegre. E tu?”. “Eu nasci no Maranhão, mas moro em São Paulo desde pequena”, disse a morena destacando o “desde pequena”, pra deixar bem claro o quanto queria de distância do berço maranhense. Então, completou a história dizendo que quando voltava para o Maranhão até estranhava o jeito que as pessoas falavam por lá, que achava horrível! Eu, quietinha no meu lugar na fila, achei aquilo tudo tão pedante e só fiquei com vontade de dizer: “Mar minino, eu tô é tu, piquena! Deixa de ser besta!”.

Tempos depois, o grupo Pão com Ovo criaria a personagem Clarice Milhomen, que é iscritin um certo povo que a gente encontra nos aeroportos por aí. Nada melhor do que o humor para mostrar a realidade, não? Eu estou mais para a personagem de Dijé, que quando abre a boca é só pra me fazer sorrir e me deixar saudade, lembrando da minha terra.

Vivendo aqui na Europa, eu vejo como cada grupo tem orgulho do seu sotaque regional e faz de tudo para preservá-lo, porque língua é identidade. Quando me perguntam qual a minha língua materna, eu sempre digo que é o maranhês, o falar de onde nasci. Que é o que me acompanha, me define e me faz sentir orgulho.

Devo também dizer que hoje em dia eu falo uma mistura de vários falares, pois convivendo com pessoas de sotaque paulista, carioca, mineiro, goiano, candango, alemão e outros, incorporei muitas expressões ao meu repertório natural.

Carái, véi! Tá ligado, mano? Belezzzz, né? Língua é um trem bão da pesti! Dêxa de sê besta, piquena! Né não? Genau!

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