Por: Nertan Dias Silva Maia – Professor Adjunto da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Doutor em Filosofia pelo PPGFIL/UERJ; Mestre em Educação pelo PPGE/UECE; Graduado em Música e em Pedagogia (UECE); Jornalista com registro profissional n. 0001832/MA. E-mail: [email protected].
(Texto inspirado no livro de Arthur Koestler, O ato de criação (1964))
Engenhocas que criamos para imitar a vida evoluíram! E agora, além de imitá-la também podem limitá-la, ou mesmo substituí-la, graças ao sutil e sedutor controle da Inteligência Artificial. Como uma marionete, símbolo atemporal de tudo o que é trágico e cômico na humanidade, o homem arrisca superar seus próprios limites não mais como homem, mas como homem-máquina, ainda que não deixe de ser um mero brinquedo do destino manipulado por seus próprios deuses ou por sua própria ciência.
No vácuo existencial entre a comédia e a tragédia, esse homem, que brinca de ser máquina, tenta conciliar seu eterno conflito ora voltando-se para seu livre-arbítrio e seu senso moral, ora para o determinismo religioso ou científico que ele acredita conduzi-lo, com segurança, à tão desejada verdade.
Este homem tragicômico, apesar de suas máquinas fantástica, continuará sempre em busca de si mesmo, cindido entre o sentir e o pensar, entre o finito e o infinito, entre o bem e o mal, entre a vida e a morte, entre Deus e o Diabo, entre o Homem e a máquina.
Porém, o que mais o angustia talvez não sejam as grandes questões de sua vã Filosofia, Ciência ou Religião, mas a sua incapacidade de vir a ser tal qual sonhara ou desejara: um ser da bondade e da verdade.
Como um simulacro, sempre estará a meio caminho desse sonho e desse desejo, pois como homem ou como máquina não conseguirá jamais ser bom, tampouco verdadeiro. Conseguirá apenas ser homem-máquina!
Assim, estará em franca colisão com as matrizes da realidade e da artificialidade que regulam o curso delirante de sua breve história. Diante da impotência do devir, o que lhe restará, como consolo, é assistir-se a si mesmo como um canastrão protagonista de uma breve e melancólica história contada em três atos: o primeiro, o da comédia, quando ri maquinal e desconcertantemente de sua própria desgraça; o segundo, o da tragédia, quando, em lampejos fortuitos de paixão, se compadece humilhado diante de um Deus com a perda de sua humanidade e de sua divindade; por fim, o da ficção sobre sua existência, quando assume incontornavelmente o desafio de tornar real aquilo que somente o mais racional e criativo dos roteiristas de sua ciência é capaz de conceber: tornar o homem máquina.
4 respostas
Será estimulante “cotejar” (não é bem este o verbo, mas…)
com as reflexões de KARL IASPERS, em seu GENIO E LOUCURA
IASPERS, Karl
Genio y locura
Madrid, AGUILAR, 1956, 301pp
Perfeito, José Geraldo!!
Uma excelente referência!
Obrigado!
Permita-me aditar a comentário anterir :
… Para ver/rever o modo de ser/viver… VIDA/CONVIVÊNCIA…⁉ https://www.startse.com/artigos/inteligencia-artificial-a-extraordinaria-e-ultima-tecnologia/
C/RF Stephen Hawking
Realmente, Hawking foi, de fato, profundo em sua previsão!