quinta-feira, 28 de março de 2024

LAURA ROSA, NOSSA VIOLETA DO CAMPO

Publicado em 20 de julho de 2022, às 18:17
Fonte: José Neres – Professor. Membro da AML, ALL, Sobrames-MA.
Imagem cedida pelo autor.

Para a professora Diomar das Graças Motta,

Para o poeta Wybson Carvalho:

dois pesquisadores da obra de Laura Rosa.

Há acontecimentos tão importantes para a sociedade como um todo que acabam eclipsando outras partes da biografia e até mesmo da obra de determinada pessoa. Foi isso que, de alguma forma, aconteceu com a poetisa e educadora Laura Rosa, escritora que adotou para si o pseudônimo de Violeta do Campo e que deixou importantes contribuições para a intelectualidade maranhense.

Filha da senhora Cecília da Conceição Rosa com um cidadão que não assumiu a paternidade da criança, Laura Rosa nasceu em São Luís, no dia 1º de outubro de 1884, teve como padrinhos o casal formado pelo Dr. Antenor Coelho de Souza e a professora Lucília Wilson Coelho de Souza. Esse contato favoreceu sua formação intelectual, que foi fortalecida por imersões no mundo da leitura e por uma ativa colaboração em jornais e revistas.

No final de 1909, ela concluiu as aulas do Curso de Normal, colando grau no ano seguinte. Logo após o fim de suas aulas, foi convidada para ser uma das conferencistas de um evento comemorativo pelo 130º aniversário de fundação da Biblioteca Pública. Na ocasião, apresentou um trabalho intitulado “As Crianças”, no qual traçou um breve perfil histórico de como as crianças eram educadas ao longo dos tempos em diversas sociedades. No segundo momento, dava conselhos relativos a como as mães deveriam cuidar de seus filhos.

Dois anos depois, em 1911, publicou o livro de contos intitulado “As Promessas”. Segundo informações registradas na época do lançamento, os textos dessa obra eram dirigidos tanto ao público adulto quanto ao juvenil. Com narrativas que conduziam a um fundo de moralidade e de noções sobre educação. Infelizmente, ainda não conseguimos encontrar exemplares desse livro, para um maior aprofundamento. Porém, a recepção da obra foi bastante calorosa, sendo recomendada para todos os públicos.

Logo após sua formatura, Laura Rosa passou em um concurso e foi designada para lecionar em uma escola mista no município de Caxias, onde ficou por alguns anos e estabeleceu muitos laços afetivos e profissionais. Depois conseguiu transferência para sua cidade de origem, onde ministrou aula por anos, até sua aposentadoria em 1944. Após o falecimento de sua madrinha, retornou para Caxias, onde novamente foi muito bem recebida e onde veio a falecer, no dia 14 de novembro de 1976, aos 92 anos.

Mesmo muito tendo contribuído para a educação e para a literatura do Estado, o nome de Laura Rosa atualmente é mais lembrado por haver sido ela a primeira mulher a ingressar nos quadros da Academia Maranhense de Letras, ao ser eleita para a Cadeira nº 26 da Instituição, no dia 03 de abril de 1943, e ser recepcionada por Nascimento Moraes duas semanas depois, no dia 17 de abril. Sempre discreta, em seu discurso de posse, preferiu silenciar totalmente sobre suas qualidades humanas e literárias e tecer elogiosos comentários ao patrono da Cadeira, o escritor Antônio Lobo, que havia sido seu professor durante sua formação para exercer o magistério.

Porém, um pouco do brilho dessa escritora foi destacado por seu sucessor na AML, o professor José Jansen Ferreira, que foi seu colega nas aulas de inglês e que lamenta o fato de os originais da primeira ocupante daquela cadeira não haver sido localizada para ser publicado, já que o anunciado livro de poemas “Castelos no Ar” (ou “Bolhas no ar” – conforme alertou o professora Clóvis Ramos em um de seus estudos) jamais foi localizado.

Os trabalhos de Laura Rosa permaneceram no ostracismo durante muito tempo. Até que a professora Diomar das Graças Motta, em sua tese de doutoramento, recuperou parte da obra e da biografia da escritora, recolhendo, posteriormente, e publicando em forma de livro a conferência “As Crianças” (Edufma, 2017, 53 páginas) e alguns de seus poemas dispersos em jornais e revistas, sob o título de “Poesia Reunida de Laura Rosa” (Edições AML, 2016, 84 páginas).

No entanto, é sabido que vários dos poemas de Laura Rosa ainda podem ser localizados em jornais, assim como parte de sua prosa, que ainda não foi explorada e quem sabe um dia pode ser resgatada e transformada em obras que deleitem os admiradores dessa escritora que precisa ser mais lida e analisada.

Um exemplo disso é o poema “aquelas Cruzes…” – publicado no Jornal “A Folha do Povo”, de 05 de novembro de 1925, e no qual a escritora mostra a todos nós, de modo bastante simbólico, quão efêmera é a vida e o caminho que invariavelmente será percorrido por todos os seres humanos.

AQUELAS CRUZES…

Laura Rosa (Violeta do Campo)

Vinde comigo, entremos devagar,

É francamente aberto este portal.

Por que hesitais? É permitido entrar.

Olhai de frente a Porta principal.

Mas, antes de transpor o patamar,

tirai, vos peço, a sandália social.

Que podereis, com uma bulha perturbar

o sono, que se dorme em leito igual.

Meditai dez minutos. Tantas luzes

a tremerem na cera derretida!

Braços abertos, vede aquelas cruzes…

Quase todas nos falam da tortura

de arrastá-las, senhor, por esta vida,

Neste vale de pranto e de amargura.

Uma resposta

  1. Bem interessante esta matéria do Escritor Prof. J Neres, resgatando valores maranhenses como Laura Rosa (Violeta do Campo), cujo trabalho literário merece projeção em nossa Cultura. Aquelas Cruzes, poema de Laura bem robustez e grande conteúdo

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