Laura Zacca: Jornalista formada pela UFMA, apresentadora, roteirista e editora do Canal Luna Solis, e escritora da história “A Piromante de Lumiére”. Instagram: @laura_zacca95 ; Twitter: @laura_zacca Instagram literário: @apiromante_lumiere ; Twitter: @CassidyIvy
Artemisa Lopes: Jornalista formada pela UFMA, apresentadora, roteirista e editora do Canal Luna Solis, e escritora da história “Território de Fúria”. Redes Sociais: Instagram pessoal: @artemisalopes_ ; Twitter: @artemisalopes_ Instagram literário: @allmasobscuras ; Twitter: @allmasobscuras
O mês de Junho é marcado pelo Orgulho LGBTQIA+ como uma forma de celebrar a comunidade e também de promover debates sobre as lutas da classe por mais respeito, representatividade e participação na sociedade. Mesmo no século 21, muitas pessoas LGBT’s infelizmente ainda sofrem diariamente com muito preconceito e convivem com a homofobia, muitas vezes da sua própria família. Muito do estigma em torno dos LGBT’s vem se desconstruindo, graças ao espaço que a comunidade vem ganhando nos últimos tempos. Isso também se reflete no meio da cultura pop, com personagens lésbicas, gays, bissexuais e trans, por exemplo, sendo apresentados em tela, seja como protagonistas ou personagens que têm destaque, mostrando que essas pessoas existem e merecem ser representadas. Por isso, hoje listamos alguns personagens LGBT’s da cultura pop que nos mostram que sim, sejam eles gays, lésbicas, trans ou panssexuais, são pessoas que tem uma história e que vão muito além da sua sexualidade ou orientação sexual.
Recentemente, a Netflix estreou a série “Heartstopper”, adaptação dos quadrinhos de mesmo nome da autora Alice Oseman, um romance cem por cento LGBT, extremamente leve e muito assertivo no quesito de representação. A trama foca no desenvolvimento amoroso entre dois adolescentes, Charlie Spring e Nick Nelson, ao mesmo tempo que lidam com as adversidades da juventude e as descobertas de sua sexualidade, principalmente do personagem Nick. Além disso, também somos apresentados aos personagens Elle Argent; uma garota trans que se envolve com o melhor amigo de Charlie, Tao Xu, ao mesmo tempo que se transfere para um colégio de garotas. A série também conta com um casal de lésbicas, Tara Jones e Darcy Olsson, que se assumem para a escola. A série consegue trabalhar muito bem a dinâmica entre os personagens, além de dialogar com o público que também é LGBT e adolescente, mostrando que o que eles estão sentindo é perfeitamente normal e que não tem nada de errado em ser gay ou lésbica, passando uma mensagem leve e acolhedora para o público alvo.
Se ser LGBT nos dias de hoje infelizmente ainda é ser sinônimo de sofrer preconceito e ser rejeitado por sua própria família, antigamente era ainda pior. Ambientada nos anos 20, a série “As Telefonistas”, também da Netflix, além de trazer uma trama com mulheres protagonistas fortes e à frente do seu tempo, ela também trouxe o debate acerca de como era ser LGBT naquela época. Na série, temos as personagens Carlota; uma telefonista que escolhe trabalhar e decidir seu destino, indo contra a vontade de seu pai, e Oscar; um homem trans (mas que inicia a trama como Sara), que se envolvem aos poucos em um romance inicialmente lésbico. Oscar inicia sua transição na 2ª temporada, onde passa por um processo de “cura gay” em um hospital psiquiátrico. O personagem é o que mais sofre transfobia, pois, na condição de transexual, ele é obrigado a passar boa parte do tempo vestindo e se comportando como mulher. “As Telefonistas” mostra como as pessoas LGBT sempre existiram e sempre lutaram por seus direitos, mesmo em uma época tão antiga, onde apenas a mera sugestão de ser diferente dos demais já era motivo para ser hostilizado e tratado com desprezo.
Sendo um livro bastante famoso no meio literário atual, “Vermelho, Branco e Sangue Azul”, de Casey McQuiston, traz uma trama LGBT e política na qual Alex, o filho mais novo da primeira presidente mulher dos EUA se envolve com Henry, o príncipe da Inglaterra – sendo que os dois são arqui-inimigos. Com essa pegada de “enemies to lovers” (de inimigos a amantes, tradução), o conflito da trama acontece quando os dois passam a serem obrigados a conviverem a fim de manter a boa imagem de suas famílias após um “incidente” no casamento de Philip, irmão mais velho de Henry. Com a proposta de um romance LGBT jovem e fofo, a autora Casey conquistou muitos fãs com uma escrita leve e divertida, um romance que consegue fisgar qualquer leitor, além de trazer um pano de fundo político para a história, uma vez que o casal precisa manter as aparências, mas tudo sai além do planejado e culmina no envolvimento romântico dos dois. A história de Casey será adaptada pela Amazon Prime Video, com os atores Taylor Zakhar Perez e Nicholas Galitzine como o casal protagonista.
A série de livros “Instrumentos Mortais”, escritos por Cassandra Clare, nos apresenta um mundo de Caçadores de Sombras – guerreiros humanos com sangue de anjos, e como eles lidam com o Submundo – termo usado para determinar a comunidade sobrenatural formada por bruxos, vampiros, lobisomens e fadas. No primeiro livro desse universo, “Cidade dos Ossos”, somos apresentados a dois personagens LGBT’s que eventualmente engatam num romance durante a trama: Alec Lightwood, que está descobrindo sua sexualidade como gay, e Magnus Bane, um imortal abertamente pansexual. Como os livros são sob a perspectiva da protagonista Clare Fray, temos apenas alguns vislumbres desse relacionamento. No entanto, a autora, visando dar visibilidade para o casal, lançou uma série de livros, “As Maldições Ancestrais”, focada na vida de Magnus e Alec, descrevendo desde a vida rotineira do casal criando seus filhos adotivos, até aventuras pelo Submundo e a Cidade dos Anjos.
O autor Rick Riordan criou diversos personagens LGBTQIA+ em seus livros inspirados em mitologias, criando um universo compartilhado, chamado carinhosamente pelo público de Riordanverse. O personagem Nico di Angelo, filho de Hades, possui um capítulo inteiro em “A Casa de Hades” dedicado a revelação de seu segredo: que ele era apaixonado por Percy Jackson, protagonista de “Os Olimpianos” e “Os Heróis do Olimpo”, explicando eventos de quando era criança e descontava sua raiva e frustrações no protagonista. Nico, um garoto literalmente saído da década de 1940, precisa se ajustar aos tempos modernos, e lidar com sua sexualidade não foi fácil devido ao meio em que nasceu. O filho de Hades vai ganhando destaque nas outras produções de Riordan, tendo seu relacionamento com Will Solace abordado em “As Provações de Apolo” e recentemente o autor anunciou que o casal ganhará um livro focado no relacionamento e nas aventuras dos dois heróis. O Riordanverse ainda possui dois protagonistas LGBT’s: o deus Apolo, de “As Provações de Apolo”, e Magnus Chase, de “Os Deuses de Asgard”. Apolo, como a maior parte dos deuses olimpianos é um personagem pansexual e teve diversos romances em sua vida imortal, tanto com mulheres como com homens, sendo os dois mais importantes Dafne e Jacinto. Já Magnus descobre sua sexualidade quando percebe estar apaixonado por Alex Fierro, um personagem não-binário que é filho de Loki e por isso pode transitar entre ser homem ou mulher.
O ano de 2019 foi marcado por um caso extremamente famoso no Brasil. Durante a Bienal do Livro, em setembro do mesmo ano, a HQ intitulada “Vingadores – A Cruzada das Crianças”, da Marvel Comics, sofreu censura por parte do então prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, que determinou que fossem recolhidos todos os exemplares da edição do evento. O motivo? O beijo gay dos personagens Wiccano e Hulkling na capa, alegando ser um “conteúdo impróprio para menores”. A ação não demorou a ganhar o desgosto de boa parte do público, alegando a censura e a homofobia. A própria assessoria da Bienal divulgou uma nota, defendendo a diversidade e a favor da circulação da HQ, e ainda incluiu um painel exclusivo para debates de temáticas LGBT’s dentro do evento. Além disso, a polêmica chamou a atenção de vários famosos, muitos deles se posicionando contra o prefeito do Rio de Janeiro. Um deles, Felipe Neto, famoso youtuber e empresário, fez questão de comprar boa parte das edições e as distribuiu gratuitamente para quem estivesse no evento. A polêmica capa marcou a primeira vez que o casal Wiccano e Hulkling trocam carícias explicitamente em quase sete anos após estrearem nos quadrinhos. O casal ainda viria a protagonizar outro momento icônico nos quadrinhos, quando em Empyre #4 os dois se casam em uma cerimônia que reuniu diversos heróis como convidados, e o mais divertido é que o casamento é organizado em questão de minutos! Wiccano e Hulkling decidem se casar, partem para Las Vegas por um portal e em literalmente 5 minutos reunem a galera e realizaram a cerimônia.
Uma animação que vem chamando atenção por sua representatividade é “O Príncipe Dragão”, da Netflix. O enredo segue um mundo dividido por cinco reinos humanos e as terras mágicas de Xadia que estão em constante guerras. Logo no começo, somos apresentados a Runaan, um elfo da lua que lidera uma ordem de assassinos para matar um dos reis humanos, que acaba capturado pelo mago Viren. No decorrer da terceira temporada, descobrimos que Runaan é um dos pais adotivos da protagonista Rayla e que ele é casado com o elfo Ethari. O relacionamento de ambos é abordado de forma natural e sem preconceitos em um flashback, que é uma das cenas mais bonitas da série. Outro casal LGBT que é apresentado na terceira temporada da série são as Rainhas de Duren, Annika e Neha, que são mães da Rainha Anya. Nos flashbacks que contam como a discórdia entre os humanos e Xadia se reiniciou, vimos como o sacrifício de três rainhas salvou seus povos da fome. Em nenhum momento o casal sofre preconceito e a filha de ambas não tem seu título de Rainha questionado, apesar de ser adotada. Mas um personagem que chama atenção por sua importância na trama é Kazi, um personagem trans que é estudante de linguagem, tradução e interpretação e que por isso torna-se essencial para que a comunicação entre as personagens General Amália, que é surda e muda, e a Princesa Janai seja efetiva e possibilita que no final haja a união entre elfos e humanos contra o vilão da série.
É fato que a comunidade LGBTQIA+ vem ganhando bastante espaço nos dias de hoje e muito vem sendo discutido sobre sexualidade e questões de gênero, mesmo com represálias de conservadores que se escondem atrás de discursos homofóbicos. Eles enfrentam uma luta diária que cabe a nós, que não vivenciamos na prática a homofobia, apenas ouvir deles e respeitá-los. A cultura pop vem nos mostrando personagens LGBT, seja como protagonistas ou coadjuvantes, que são humanos com histórias e que merecem ter papéis ativos na sociedade. O mês do Orgulho LGBTQIA+ vem para celebrar a diversidade, o respeito, a representatividade e acima de tudo a luta e a trajetória de toda a comunidade, apenas para serem livres por serem quem são – e não há nada de errado nisso.