Cristianne Magalhães é poeta, leitora obsessiva e escreve por compulsão.
Escritora em formação, autodidata e aprendiz de feminista. Publica crônicas no site Região Tocantina.
Tem interesse por filosofia, minimalismo, educação financeira, a verdade do universo e um monte de outras coisas.
É graduada em Letras/Inglês pela Universidade Estadual do Maranhão e professora de Português e Inglês na Rede Estadual de Ensino há mais de 15 anos, em Imperatriz.
ABANDONO
Quando o útero expele a criança,
nasce a linha que separa as duas datas.
Quando o jovem amor sentido
raia como novo sol emergido,
reencontra a resposta que falta.
Mas o abandono sempre resta lá.
Somando a ausência ao que virá.
Sempre há meninas abandonadas
no meio das linhas de tiro.
As vozes velozes em volta,
a vida vazia que se esvai…
Nada preenche a meia noite
à meia luz.
A meia idade rejeita meias vidas
que desperdiçam a inteireza da solidão.
Tem uma criança abandonada
no meio da linha de separação.
Deixada lá, como se tivesse o dobro do tamanho.
E tem.
Como se soubesse se defender.
E sabe.
No meio do mar revolto, ela soube nadar.
Nunca abandonou a menina pequena nem a mulher.
E tenta. Todo dia. Não se abandonar.
NÃO, OBRIGADA
A linha de frente é mulher.
Na limpeza e no cuidado,
na pobreza e na doença,
na tristeza e na beira do leito,
quem consola é uma mulher.
Alfa e ômega.
Do nascer ao morrer,
brilha a estrela em performances
não monetizadas.
Oh, deusa das jornadas triplas!
Rainha do home office!
Coroa e trono imaginários.
Acolhe o sexo forte
e o que não se assume frágil.
A prima de terceiro grau,
na hora do cuidado
é lembrada.
O que tem pra elas, então?
Mulher guerreira?
Não, obrigada!
JOSÉ GRANDE
Oh, José!
Homem trabalhador
da cidade grande
nem vê a chuva, José!
Levanta cedo
pega metrô,
sem ver a chuva, José!
Trabalha de estivador
e nem vê a chuva,
o homem da cidade grande.
José, você vive chuva!
Você é do interior.
Você é grande, José!
Uma resposta
Muito bem, isso isso! Como costumam dizer em italiano: “Brava!”.