terça-feira, 15 de outubro de 2024

Mural das Minas #06: CRISTIANNE MAGALHÃES: POESIA PARA SENTIR O MUNDO

Publicado em 19 de abril de 2022, às 19:19
Fonte: Da Redação
Imagem cedida pela autora

Cristianne Magalhães é poeta, leitora obsessiva e escreve por compulsão. 
Escritora em formação, autodidata e aprendiz de feminista. Publica crônicas no site Região Tocantina.
Tem interesse por filosofia, minimalismo,  educação financeira, a verdade do universo e um monte de outras coisas.
É graduada em Letras/Inglês pela Universidade Estadual do Maranhão e professora de Português e Inglês na Rede Estadual de Ensino há mais de 15 anos, em Imperatriz.

ABANDONO

Quando o útero expele a criança,
nasce a linha que separa as duas datas.

Quando o jovem amor sentido
raia como novo sol emergido,
reencontra a resposta que falta.

Mas o abandono sempre resta lá. 
Somando a ausência ao que virá. 

Sempre há meninas abandonadas
no meio das linhas de tiro. 

As vozes velozes  em volta,
a vida vazia que se esvai…
Nada preenche a meia noite
à meia luz.  

A meia idade rejeita meias vidas 
que desperdiçam a inteireza da solidão.  

Tem uma criança abandonada 
no meio da linha de separação. 

Deixada lá, como se tivesse o dobro do tamanho.
E tem. 
Como se  soubesse se defender.  
E sabe.

No meio do mar revolto, ela soube nadar. 
Nunca abandonou a menina pequena nem a mulher.
E tenta. Todo dia. Não se abandonar. 

NÃO, OBRIGADA

A linha de frente é mulher.
Na limpeza e no cuidado,
na pobreza e na doença,
na tristeza e na beira do leito,
quem consola é uma mulher.
Alfa e ômega.
Do nascer ao morrer,
brilha a estrela em performances
não monetizadas.
Oh, deusa das jornadas triplas!
Rainha do home office!
Coroa e trono imaginários. 
Acolhe o sexo forte
e o que não se assume frágil.
A prima de terceiro grau,
na hora do cuidado
é lembrada.
O que tem pra elas, então?
Mulher guerreira?
Não, obrigada! 

JOSÉ GRANDE

Oh, José!
Homem trabalhador 
da cidade grande
nem vê a chuva, José!

Levanta cedo
pega metrô,
sem ver a chuva, José!

Trabalha de estivador 
e nem vê a chuva,
o homem da cidade grande.

José, você vive chuva!
Você é do interior.
Você é grande, José!

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