O Silêncio da Chuva (Companhia das Letras, 248 páginas) foi escrito e lançado em 1996 pelo escritor e psicanalista brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza (1936-2020). É o romance de estreia do autor, recebendo em 1997 o Prêmio Jabuti e o Prêmio Nestlé de Literatura e, recentemente, foi adaptado para o cinema com direção de Daniel Filho e com Lázaro Ramos no papel principal. Ao todo, Luiz Alfredo Garcia-Roza escreveu vinte livros, sendo doze romances policiais e oito de não-ficção.
Na trama, um executivo é encontrado sem vida em seu carro com um tiro na cabeça, aparentemente sem testemunhas e nenhuma pista de quem pode ter matado o homem. O inspetor Espinosa, acostumado a ficar apenas em plantões sem se aventurar em assassinatos, pois são raros em sua área, se torna o responsável pela investigação. Porém, alguns dias após a morte do executivo, pessoas ligadas ao caso começam a desaparecer e outras vítimas surgem. Como elas estão ligadas ao caso é o que o inspetor Espinosa tenta descobrir.
Algo que eu gosto em romances policiais é me importar com o detetive, de conhecer sua vida particular e ser quase um amigo próximo. O inspetor Espinosa é um personagem muito identificável. Passa longe de ter a inteligência dos detetives da literatura, é bastante educado e cordial com os envolvidos no caso, consome muito Big Mac e milk-shake e gosta de comprar livros em sebos nas horas vagas. O leitor acompanha seu raciocínio e suas hipóteses sobre o caso, passeia com ele pelo Rio de Janeiro e acompanha seus eventuais casos amorosos do personagem.
A escrita simples, direta e de fácil entendimento do autor também colabora para o leitor se identificar com Espinosa. Outro ponto a se destacar é que o leitor tem acesso a informações sobre o caso antes do inspetor. Desde as primeiras páginas sabemos o que houve com o executivo, as ligações entre certos personagens e outras situações que se desenrolam na trama. Por um lado, é algo diferente do que costuma acontecer no gênero policial; por outro, chega um momento em que tive a sensação de que a investigação estava sendo inútil e demorava mais do que o necessário para avançar, além de criticar Espinosa por não ver o que ocorreu. Apesar disso, o leitor não larga o livro até entender tudo o que aconteceu.
O final merece destaque também. Apesar do culpado não trazer surpresa para o leitor mais atento, a solução para o caso principal foi bastante curiosa e peculiar. Entretanto, o final ficou um pouco apressado e algumas lacunas foram mal preenchidas.
O Silêncio da Chuva é uma boa porta de entrada para o gênero do romance policial e, principalmente, para quem quer conhecer um autor brasileiro. Possui ousadia, uma linguagem fácil e simples e é uma leitura rápida, nos prendendo até o fim.