Inteligência artificial, um tema muito discutido ultimamente por cientistas e pesquisadores até mesmo com um quê de preocupações, observadas por alguns como uma grande vantagem presente em nossas vidas e por outros como uma ameaça à humanidade.
Muitas vezes a Inteligência artificial é vista como um futuro distante ou apenas como uma ficção, porém a inteligência artificial está presente em nossas vidas nas simples tarefas do dia a dia que envolvem equipamentos ou dispositivos do mundo moderno ou em sistemas de alta complexibilidade como, por exemplo, em plataformas como: Google, Uber, Spotify Netflix e redes sociais, como Facebook, Instagram entre outras, ou simplesmente navegar pela internet, utilizando sistema de identificação de voz, nos aplicativos em várias funções. A Amazon oferece a seus clientes novos produtos a partir de machine learning. O software ajuda a decidir até qual é o melhor momento para fazer as ofertas. Enfim, são várias as formas que ela se faz presente em nossa rotina.
Mas afinal, o que é mesmo a Inteligência artificial?
Conforme afirma Feigenbaum (1981, apud FERNANDES, 2003), inteligência artificial é a parte da ciência da computação voltada para o desenvolvimento de sistemas de computadores inteligentes, ou seja, sistemas que exibem características, as quais se relacionam com a inteligência no comportamento do homem.
De acordo com Bitttencourt (2001), há séculos a inteligência artificial já é utilizada, equipamentos eram usados para marcar o tempo e simular comportamento de animais. Com o tempo foram feitos relógios, técnicas para se calcular, como o ábaco, até chegar aos computadores. Que tiveram evolução a partir da Segunda Guerra Mundial.
No ano de 1943, os pesquisadores Warrem McCulloch e Walter Pitts fizeram um trabalho, o qual simulava uma rede de neurônios artificiais. Nessa rede, cada neurônio tinha um estado “ligado” e um estado “desligado”, dependia dos estímulos recebidos dos “neurônios vizinhos”. Os pesquisadores mostraram que qualquer função computável pode ser calculada a partir de redes neuronais adequadas e que as portas lógicas podem ser representadas através de uma rede neuronal simples, consideradas as três gerações de lógica, na inteligência artificial dos computadores modernos (Martino, 2009).
Esse termo IA surgiu com entusiasmo e otimismo no século XX, o termo IA vinha para descrever o futuro das máquinas que teriam a capacidade de se assemelhar à inteligência humana.
Segundo Russel e Norvig (2004), no ano de 1956, em um seminário de Dartmouth, o termo “Inteligência artificial” foi utilizado pela primeira vez. A primeira fase da Inteligência Artificial (1952-1969), considerada uma fase de sucesso nas criações e desenvolvedores de sistemas de inteligência artificial confiáveis, porém desde então passaram a estabelecer metas ambiciosas nesse setor. E com o passar do tempo, foi amadurecendo e se elevando para o campo da ciência e atingindo a proporção em que vivenciamos nos dias atuais.
Segundo Pereira (2005), hoje em dia, as áreas em que a inteligência artificial é mais acentuada são as de planejamento autônomo, jogos, controle autônomo, diagnóstico, planejamento logístico e reconhecimento de linguagem e resolução de problemas.
A inteligência artificial está nos dizendo: “As maquinas aprendem!”. É um pouco assustador, mas como vimos esse é um trabalho de décadas de pesquisas e investimentos. Machine Learning (Aprendizagem de Máquina). Segundo Coppin (2010), aprendizado está diretamente ligado com a inteligência, pois realmente se um sistema é capaz de aprender a exercer determinada tarefa, merece então ser chamado de inteligente.
As máquinas são capazes de aprender uma sequência conforme os dados e informações armazenados e que são classificados por ele de forma autônoma, mas que podem ocorrer erros no processo de classificação dessa sequência baseada em ações anteriores. Porém, o que ocorre atualmente é que esse sistema está programado para se desenvolver de forma autônoma sem interferências, ele pode tomar suas próprias decisões, consegue raciocinar, perceber, planejar e processar informações, além de “aprender por si mesmas” graças a sistemas de aprendizado que analisam grandes volumes de dados, possibilitando a elas ampliar seus conhecimentos. A IA tem a capacidade de agrupamentos de várias tecnologias como algoritmos, redes neurais também artificiais e os sistemas de aprendizados, entre outros, que conseguem aproximar ou simular as capacidades humanas ligadas à inteligência.
Como afirma Coppin, uma forma bastante avançada de aprendizado de máquina são as redes neuronais. Que têm semelhança com o funcionamento do cérebro humano, sendo uma grande rede de neurônios. Essa rede é organizada geralmente em duas camadas. A primeira recebe as informações a serem classificadas, usa aprendizado supervisionado por modificarem a forma das conexões de acordo com o que é informado e por último ativam os neurônios de saída. É uma forma bastante complexa, mas tem muita utilidade por ser bastante preciso e dificilmente acontecerem erros, que em outros ambientes de aprendizagem são comuns. Dentro das redes neuronais, existe a forma de aprendizado não supervisionado, que não precisa de nenhum tipo de classificação, isso acontece, por exemplo, ao ser feita uma pesquisa na Internet, que traz vários resultados ao interpretar a informação sem nenhum tipo de classificação definida pelo usuário (Coppin, 2010),
Inteligência Artificial, uma criação inacreditável! E que é entendida como uma das principais tecnologias da atualidade com um potencial de mudar profundamente a realidade da indústria, dos setores de produção da medicina e a funcionabilidade das organizações que, uma vez adotando essas tecnologias independente da área que atua, terá um potencial benéfico para os negócios e para a vida, uma vez que a IA, como já discorrido nesse artigo, vai além da automação mecânica ou robótica, trata-se de processos cognitivos que geram a capacidade de aprendizagem, conseguindo realizar não apenas tarefas repetitivas ou manuais mas também atividades mais complexas como a análise de desempenho e tomadas de decisão, através de recursos tecnológicos que podem prever fatos importantes por meio de resultados prévios em todos os setores da organização, desde a produção até o comportamento do consumidor, por exemplo, e de predizer possíveis resultados.
É natural que, com o avanço das tecnologias, a inteligência artificial seja difundida na maioria dos segmentos ou setores da sociedade, na automação da indústria, no mercado de trabalho, nos órgãos públicos, no uso de aplicativos que lhes oferecem soluções fáceis e rápidas, no uso de smartphones; é uma ferramenta de grande relevância pois permite processos confiáveis e seguros, umas vez que o sistema toma decisões autônomas a partir de dados digitais, essa já é uma realidade cotidiana na vida moderna.
Enfim, a inteligência artificial vai além das máquinas que há décadas vêm substituindo o homem em fábricas, em processos de montagens, embalagens e entrega que, mesmo com o avanço das tecnologias e a presença dos robôs, ainda é um trabalho manual e repetitivo;. o que propõe a IA é criar, a partir de uma lógica de programação, um sistema autônomo que consegue desempenhar tarefas e sugerir conteúdo ou produtos personalizados, a partir de informações, analisar e reconhecer padrões sobre os próprios dados.
Mas qual a preocupação com tudo isso? Vamos entender, quem não se lembra dos robôs imbatíveis da série de filmes “O exterminador do futuro” da década de 1980. O “Exterminador do Futuro” é possivelmente uma das séries de maior sucesso de todos os tempos, ficou muito conhecida por trazer o ator Arnold Schwarzenegger para as telas do cinema. No filme “O exterminador do futuro: A salvação”, é possível observarmos a terra devastada, porém as pessoas têm acesso a altas tecnologias. A Skynet construiu exterminadores. Com isso a guerra fica mais acirrada e o desespero tomou conta dos líderes da resistência humana. Alguns acreditam que um homem é a salvação, outros o julgam um falso profeta. Seu nome é John Connor na ficção. O ano é 2018, ou seja, uma visão futurista do avanço das tecnologias. (méritos tecmundo.com.br).
Uma ficção fascinante que na época nos revelava tecnologias que muitas já existem hoje e possíveis recursos que ainda teremos num futuro bem próximo. A ficção revelava ali a autonomia das máquinas e como eram uma ameaça para os humanos.
Stuart Russell, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, dedica-se há décadas ao estudo da Inteligência Artificial (IA), mas também é um de seus mais conhecidos críticos, adverte que o modelo predominante de Inteligência Artificial é, em sua opinião, uma ameaça à sobrevivência dos seres humanos. Assim como na ficção de “O exterminador do futuro”? Não, não que ele acredite que essa tecnologia pode acontecer como nos filmes de Hollywood, de tornar consciente e se voltar contra o homem. Como afirma o artigo publicado na BBC News Brasil em São Paulo, por Paula Adamo Idoeta em 10 outubro 2021. A preocupação principal de Russell é como a forma como essa inteligência tem sido programada por seus desenvolvedores humanos: elas são incumbidas de otimizar o máximo possível suas tarefas, basicamente a qualquer custo. E, assim, tornam-se “cegas” e indiferentes aos problemas (ou, em última instância, à destruição) que podem causar aos humanos, afirma Russell.
As principais redes sociais do mundo conectam 3,5 bilhões de usuários e são uma preocupação para muitos pesquisadores, quanto aos algoritmos de engajamento que se desenvolvem de forma autônoma cada vez mais independentes e que segundo esses especialistas podem ameaçar a paz, amônia e até mesmo as democracias dos países, incitar o ódio, a violência, o racismo e até atos terroristas.
Quando falamos de tecnologias não podemos esquecer que quem cria essas tecnologias são os homens e que esses criadores precisam entender que a responsabilidade de direcionar e dominá-las e torná-las mais humana é de grande importância para que a mesma não deixe de ser uma ferramenta do bem e passe a ser uma ameaça.
O que leva à discussão sobre as gigantes das redes sociais é o favorecimento do uso dessas redes sociais pelo usuário de forma indutiva, tarefa dos algoritmos de engajamento, funciona como um coletor de informações sobre o usuário, quanto maior o número de informações, mais conteúdo ela irá receber e interagir, de forma que ela fique cada vez mais tempo conectada, sem levar em conta o quanto isso pode ser prejudicial a sua vida social, seu bem-estar entre outros danos.
Russell ainda pontua que: “As redes sociais criam vício, depressão, disfunção social, talvez extremismo, polarização da sociedade, talvez contribuam para espalhar desinformação. E está claro que seus algoritmos estão projetados para otimizar um objetivo: que as pessoas cliquem, que passem mais tempo engajadas com o conteúdo”,
Até que ponto as redes sociais podem interferir no comportamento da sociedade? É certo que as redes sociais permitem às pessoas se comunicarem globalmente, se interagir com povos distantes facilita o intercâmbio cultural, promove a comunicação e facilita a vida das pessoas, além de ter se tornado uma ferramenta comercial também a nível global e o que é melhor com um baixo custo, são inúmeras as vantagens que posso citar aqui.
Por outro lado, temos também algumas desvantagens, a comunicação horizontal permite o acesso a desinformação, as fake news fazem parte desse viés, a polarização de questões importantes para a sociedade, o estímulo de conceitos fundamentalistas e extremistas, ataques a órgãos importantes das instituições governamentais, além de destacar a manipulação e a interferência de grupos de interesses em resultados de atos democráticos como eleições por exemplo, o que aconteceu nos Estados Unidos na ocasião em que as notícias falsas a favor de Donald Trump ganharam a rede mundial de computadores e interferiram nos resultados das eleições. Exemplos como esses mostram o potencial de influência que a internet tem sobre a sociedade e o poder de organizar grupos, viabilizar debates e ações entre os cidadãos. Isso vem sedo discutido por muitos pesquisadores, uma vez que fica provado que o próprio sistema de algoritmos de engajamento das redes sociais conduz esses debates, conteúdos e ações mundo afora.
Como afirma AROS; GOMES: a disseminação de mentiras e informações inverídicas não é algo recente:”A proliferação de boatos não é uma prática nova entre os seres humanos, todavia essa conduta ganhou proporções ainda maiores com os avanços advindos da tecnologia.” (AROS; GOMES, 2017, p. 510).
As redes sociais podem se tornar ferramentas psicopatas comandadas pelos humanos, destrutivas e incapazes de ser sensíveis aos seres humanos.
Russell usa a metáfora de um gênio de lâmpada atendendo aos desejos de seu mestre: “você pede ao gênio que te torne a pessoa mais rica do mundo, e assim acontece – mas só porque o gênio fez o resto das pessoas desaparecerem”, diz Russell (BBC News Brasil).
Até onde o homem poderá ir por intermédio da Inteligência artificial de modo que não se tenha mais controle sobre o que ela possa interferir nas decisões das pessoas ou usuários? Ou será que o mesmo já não pode interferir nesse desenvolvimento autônomo da IA, estamos diante de uma criação em que o homem não poderá mais dominar? Enquanto isso podemos nos questionar até que ponto somos conduzidos pela inteligência artificial ou por quem está por trás dela? Ainda posso eu ser seletiva ao ponto de confiar cada vez mais na minha desconfiança?
As redes sociais dominam o mercado, a vida cotidiana e comum de 3,5 bilhões de pessoas no mundo, com a pane da última semana, dia 04/10, nas três redes mais usadas pelas pessoas físicas e jurídicas, foi para muitos como se a vida tivesse dado uma pausa por 5 horas, o suficiente para analisarmos até que ponto estamos vivendo em função desses sistemas inteligentes, para muitos a comprovação de uma dependência maléfica. Quem domina quem?
Estamos todos conectados na grande teia sem ao menos questionar, quem está por trás da grande teia? Para onde estamos sendo conduzidos?
“O que o homem não domina domina o homem”. (Márcia Castelo Branco, crônica a Inteligência artificial 2020).
Regenciais bibliográficos
ARO, Mariana Lansttai Bevilaqua; GOMES, Nataniel dos Santos. As fakes news como contribuição na formação do leitor crítico. In: Suplemento: Anais da XII JNLFLP. Revista Philologus, Ano 23, N° 69. Rio de Janeiro: CiFEFiL, set./dez.2017.
BITTENCOURT, Guilherme. Inteligência artificial: ferramentas e teorias. 2. Ed. Florianópolis: UFSC, Ed. da Universidade, 2001.
BBC News Brasil.
COPPIN, Ben. Inteligência artificial. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
FERNANDES, Anita Maria da Rocha. Inteligência artificial: noções gerais. Florianópolis: Visual Books, 2003.
MARTINO, José Mario De. Elementos de Inteligência Artificial utilizados em Jogos Digitais – Conceitos, Objetivos e Tendências. Campinas: 2009. Disponível em: http://www.dca.fee.unicamp.br/~martino/disciplinas/ia369/trabalhos/t4g1.pdf(pg2) Acesso em: 13/, outubro, 2021.
RUSSEL, Stuart e NOVING, Peter. Inteligência artificial, São Paulo, Campus, 2004.
PEREIRA, Luís Moniz. Inteligência Articial Mito e Ciência. São Paulo, 2005. Disponível em: http://centria.fct.unl.pt/~lmp/publications/online-papers/ia-mito.pdf>
Site. tecmundo.com.br