sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Poesia Maranhense Contemporânea – parte I

Publicado em 29 de agosto de 2021, às 21:03
Imagem: Academicos.org

As artes vivem sempre em fase de renovação. Embora todas as pessoas estejam fadadas a um dia irem ao encontro da indecifrável figura da morte, os feitos e as obras tendem a permanecer para a posteridade e, ou caem em um relativo esquecimento, ou passam a iluminar o caminho das gerações que chegam.

É o que acontece também no âmbito da Literatura Maranhense. Recentemente as letras foram abaladas pelo falecimento de expoentes como Nauro Machado, José Chagas, Ferreira Gullar, Manoel Lopes, Waldemiro Viana, Sálvio Dino, Carvalho Junior e de tantos outros intelectuais que eternizaram suas ideias em palavras. Todavia, ao mesmo tempo, surgem nomes que tendem a brilhar no cenário literário. 

No caso da poesia produzida por autores maranhenses, dentro ou fora do Estado, temos excelentes nomes que vêm produzindo uma obra de qualidade. A lista é grande e sempre será incompleta. Vejamos alguns detalhes sobre esses artistas que engrandecem nossa literatura.

Dona de um estilo minimalista e voltado para a relação intrínseca entre o eu, outro e as origens, a escritora Luiza Cantanhêde vem solidificando seu caminho nos terrenos das letras com uma poesia enraizada em suas experiências e no cuidado no trato com as palavras. Sua obra vem sendo estudada e reproduzida em vários rincões do Brasil e é constantemente aplaudida pelos amantes da boa poesia.

Outro poeta que há um bom tempo vem deixando suas marcas nas letras nacionais é Salgado Maranhão. Dono de um estro que mesclar um olhar crítico sobre a realidade circundante com trechos de uma vivência que se transmuta em palavras bem articuladas, o poeta consegue imprimir um ritmo bastante característico em seus trabalhos e consegue encontrar boas soluções poéticas para os desafios que se apresentam cotidianamente.

Seguindo o mesmo caminho, o muitas vezes premiado professor e poeta Paulo Rodrigues vem construindo uma obra sólida alicerçada na metaforização de incômodas situações corriqueiras que poderiam passar despercebidas, não fosse o olhar atento dos artistas que emolduram cenas aparentemente comuns em exemplos claros de ourivesaria poética, com o uso de poucas palavras e muita criatividade. Em Paulo Rodrigues, as imagens poéticas ocupam um lugar de destaque e reconstroem um cenário de caos em forma de boa poesia. Esse gosto pelas imagens também é muito forte e marcante na obra poética do jurista e poeta Weliton Carvalho, que, desde a década final do século XX, vem construindo uma obra na qual é possível encontrar traços autobiográficos, erotismo, críticas sociais e um universo de leitura e releituras que fundamentam seu olhar com relação ao mundo.

O universo feminino, com parte de suas angústias, desejos de mudanças, perspectivas e dúvidas, recebe uma boa dose de tessitura poética na obra de Anna Liz Ribeiro, uma escritora que demonstra bom domínio da palavra e que sabe equilibrar as emoções e um olhar racional em versos que primam pela melodia e por um conteúdo bem elaborado. Já na poética de Wanda Cristina Cunha é possível encontrar, além de um mergulho profundo nas questões existenciais, uma preocupação constante com os problemas sociais que massacram o povo e podem tornar a vida um fardo a ser carregado. A escritora, atenta às constantes alterações sociais, utiliza os versos como arma de combate em prol de quem nem sempre tem vez e voz diante de um mundo cada vez mais conturbado.

Os irmãos Samuel e Samarone Marinho, cada um a seu modo e seguindo um estilo particular, criam poemas nos quais o minimalismo é uma das questões mais visíveis, porém não se trata apenas de uma construção bem elaborada de versos, mas sim da transposição para o papel de observações acerca de uma imensidão de temas que acabam compondo um todo poético que se completa e ao mesmo tempo se distancia, mas sempre com um cuidado especial no manuseio da palavra e na construção de imagens.

Mais experientes e com mais tempo de carreira, Luís Augusto Cassas e José Maria Nascimento são dois poetas basilares na constituição poética da transição entre os séculos XX e XXI. Ambos sempre demonstraram tratar a poesia de forma respeitosa e com muita dedicação. Cassas percorreu ao longo de toda a sua carreira uma trajetória que sempre tentou harmonizar (ou mesmo reinterpretar conflitos) entre os aspectos físicos e o lado espiritual do ser humano. Já José Maria Nascimento fez de sua própria biografia o mote principal de sua produção poética, arrancando de suas próprias dores e alegrias as temáticas com as quais tece seus versos.

Leitores e admiradores da obra de Nauro Machado, alguns poetas, mesmo com o tempo seguindo caminhos próprios, abordando temática singulares e investindo em uma linguagem particular, não negam a influência naureana no início de suas trajetórias, é o caso de Ricardo Leão, Antonio Ailton, Wybson Carvalho, Bioque Mesito, Artur Prazeres e outros escritores de grande talento que equilibram as influências e a necessidade de contar com uma dicção poética própria.

Poetisas como Laura Amélia Damous, Sonia Almeida, Aurora da Graça, Ana Luiza Almeida Ferro, Lenita Estrela de Sã e Arlete Nogueira da Cruz são bastante lidas e respeitadas no universo literário maranhense, nacional e até internacional. Produziram (e continuam produzindo) uma obra de fôlego na qual a inventividade no trato com as palavras e a capacidade de traduzir emoções, observações e críticas em versos harmoniosos revelam um talento nato para as lides com as palavras.

Poetas infelizmente menos divulgados, como é o caso de Arquimedes Vale, Hilmar Hortegal, Socorro Veras, Márcia Sousa, Michel Herbert e Gabriel Andrade, entre outros produzem poesia de alto nível estético e metaforizam a vida e as relações pessoais de modo ao mesmo tempo lírico e crítico, compondo textos harmoniosos nos quais a sonoridade coaduna com as imagens que se formam aos olhos de leitor a cada página de seus trabalhos artísticos.

As metáforas da vida e do tempo célere que passam deixando suas marcas são condensadas pelo minucioso olhar feminino de autoras que fazem da alusão e das constantes sugestões imagéticas de escritoras como, por exemplo, Dilercy Adler, Natércia Garrido, Linda Barros, Gabriela Lages, Samara Volpony, Maria das Neves Azevedo e tantas outras escritoras que já solidificaram suas carreiras literárias ou que estão a divulgar seus conteúdos artísticos em livros ou nas redes sociais.

Para concluir este primeiro momento, é importante lembrar que muitas obras publicadas e muitos talentosos escritores nem sempre conseguem chegar às mãos e aos olhos dos leitores, o que é ruim, pois, por problema de divulgação e/ou de distribuição de seus trabalhos, acabam não sendo lidos e estudados.

Porém é importante salientar que o Maranhão continua sendo um grande produtor de conteúdo literário e que é impossível esgotar tantos nomes que merecem ser citados. Mas um dia falaremos mais sobre isso.

Uma resposta

  1. Muito consistente o texto, fazendo um panorama coerente do que vem sendo produzindo ao longos dos últimos anos entre os século XX e XXI.

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