quinta-feira, 28 de março de 2024

Globalismo: utopia, realidade ou discurso político de caráter conservador.

Publicado em 24 de julho de 2021, às 19:39
Fonte: Márcia Castelo Branco – Administradora de marketing, mestre em educação, professora, escritora e membro da Academia Açailandense de Letras.
Imagem: Jornal do Empreendedor

Ainda existem muitas dúvidas em torno dessa palavra GLOBALISMO, afinal, por que razão fala se tanto em globalismo nesse momento? De que se trata? Será uma teoria da conspiração? Será um governo único, a nova ordem mundial? O globalismo existe ou não existe? Será apenas um discurso ideológico e político com objetivos políticos apenas? São vários os questionamentos em torno desse assunto e que o mundo está discutindo.

Mas afinal de que se trata o globalismo? Termo frequentemente citado nos discursos e críticas de autoridades do atual governo Bolsonaro e o Ex -Presidente Trump, que chegou a afirmar em seu discurso na 73ª Assembleia Geral das Nações Unidas em 2018, que rejeita o que chama de “ideologia do globalismo” que, na sua visão, se opõe ao seu lema de “Estados Unidos primeiro”. Afirmou o Ex-presidente.

O atual governo Bolsonaro, que se intitula de direita conservadora, trouxe à tona as indagações em torno do tema globalismo. O Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) promoveram no dia 10 de junho de 2019, o seminário “Globalismo”. O seminário promoveu debate entre membros do governo e da sociedade sobre o conceito e o fenômeno do globalismo e suas implicações para as relações internacionais contemporâneas.

Porém entre tantas discussões e publicações sobre o assunto não foi possível conceituar necessariamente o termo, muitos estudiosos do assunto chegam até a afirmar que o globalismo por ser um termo novo criado por motivações deliberadamente políticas pode ter várias definições diferentes dependendo de pessoa para pessoa.  O que sabemos é que globalismo não é sinônimo de globalização, como afirma Blommaert, “mas é exatamente a semelhança com ‘globalização’ que confunde as pessoas e faz com que elas pensem que sabem do que está sendo falado”, afirma ele.

 No entanto esse termo ou palavra com vários significados distintos cresce como um slogan político com ideologias antinacionalistas ou contraria a ideia ou doutrina do patriotismo. Quando perguntado pela BBC News Brasil se o “Globalismo” é simplesmente um “slogan político”, o cientista político americano Joseph Nye, professor de Relações Internacionais em Harvard e um dos pais do conceito de “soft power” define o termo (poder brando, ou a capacidade de um país de influenciar decisões por seu poder de persuasão, em contraposição a seu poder militar). O termo “tem sido usado por líderes nacionalistas-populistas para condenar elites envolvidas em negócios globais, como comércio e instituições internacionais”, define Nye para a mesma entrevista sobre o tema à BBC News Brasil.

Em outros momentos da história, o termo teve definição bastante diferente dessa atual – adotada pela nova “direita” populista. Para a ciência o termo refere-se nas Ciências Sociais como empregado para referir-se a uma conjunção sócio política, geopolítica e histórica que operam em diferentes segmentos da sociedade e suas atuações desde o indivíduo, grupos, nações, nacionalidades culturas e comportamentos.

Ainda Segundo o sociólogo Octávio Ianni, em sua obra A era do globalismo, o globalismo consiste em uma espécie de generalização de todas as particularidades expressas em âmbito local, provincial ou nacional, envolvendo os diferentes sistemas econômico-sociais e suas transformações.

Conforme algumas reiterações sobre o tema por vários especialistas ou críticos há uma percepção ideológica sobe o termo ou teoria globalista de uma visão de mundo bem mais ampla que o sistema de globalização e associado ao um conceito de sistemas mundiais ou com um alcance global, que traz para a discussão o tema governo único, outro assunto polêmico e discutido na atualidade.

Quanto à globalização é importante esclarecer a diferença entre esse conceito e o termo globalismo. A globalização é um processo de integração social, econômica e cultural entre as diferentes regiões do planeta, enquanto que o globalismo foge do conceito econômico para um conceito político ou uma ideia de uma política internacionalista que conforme alguns críticos afirmam tem o objetivo de dirigir e controlar todas as relações entre os cidadãos de vários continentes por meio de intervenções e decretos autoritários (CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS).

Em outro termo centralizar as tomadas de decisões em vários âmbitos sociais no mundo, desde questões climáticas, econômicas, sociais e políticas, como é o caso da pandemia do coronavírus por exemplo ou o avanço do desmatamento ou aquecimento global. O principal argumento do globalismo é de lidar com problemas complexos mundiais de forma harmônica ao redor do mundo por um corpo burocrático supranacional, com a imposição de legislações sociais uniformes e políticas específicas para cada setor da economia de cada país, como afirma Emanuel Steffen, em um artigo publicado no site campo grande News em 2018.

Para muitos críticos de estrema direita contrários ao globalismo, há várias afirmações que conceituam o termo como oposição ao “nacionalismo”, segundo suas concepções antiglobalistas, o conceito de globalismo refere-se a um projeto político de um governo global. O assessor para assuntos internacionais do governo Bolsonaro, Filipe Martins, um dos alunos do escritor e guru bolsonarista, Olavo de Carvalho, grande crítico do globalismo, publicou no seu Tweet em novembro de 2018, a seguinte afirmação. “Globalismo é a ideologia que preconiza a construção de um aparato burocrático —de alcance global, centralizador e pouco transparente— capaz de controlar, gerir e guiar os fluxos espontâneos da globalização de acordo com certos projetos de poder. Não confunda uma coisa com outra”.

Para entender melhor em torno desse debate, vamos retomar ao princípio lógico do conceito globalista, ou as origens da expressão. Segundo o professor Matias Spektor, vice-diretor da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), estão no livro The Emergence of Globalism: Vision of World Order in Britain and the United State. As bombas ainda despencavam sobre a Europa cansada da II Guerra Mundial, entre os anos 1939 e 1945, quando um grupo de intelectuais como o francês Raymond Aron e o romeno David Mitrany tentavam imaginar como seria o mundo quando calassem as armas: por que a chamada comunidade internacional havia demorado para reagir aos planos megalomaníacos de Adolf Hitler? Mais: como evitar, no futuro, o surgimento de um novo Führer?

Das indagações da época surgiu a ideia de como gerir a paz entre as nações, que seria criar um vínculo entre as grandes potências de forma que pudessem administrar problemas mundiais através de órgãos globais, com a intenção de poder evitar eventos como por exemplo o holocausto, defendendo o consenso de unir forças contra regimes tiranos, a partir de então, dentro dessa inspiração surge a fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), diferente da Liga das Nações, ou Sociedade das Nações, criada ao término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com sede em Genebra, na Suíça,  a primeira organização com base integrada por Estados soberanos, com o objetivo de instituir um sistema de segurança entre as nações integradas  e promover a paz, porém a mesma fracassou no objetivo de evitar  conflitos. No entanto, no campo econômico deu início a outro tratado internacional, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), que deu origem à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Retomando os fatos atuais em torno do globalismo, é importante salientar que o globalismo é apenas uma teoria, de modo que possui os seus defensores e os seus críticos.  Para muitos as práticas ou acordos globalistas podem interferir nas relações de domínio do sistema capitalista, vindo a desconsiderar dinâmicas do mercado e das relações internacionais, ou ainda que a tese não seria capaz de pontuar positivamente as particularidades que estabelecem contextos semelhantes onde muitas vezes nem os governos conseguem alcançar, além de evidenciar pautas polêmicas como o fenômeno que orienta a fundação de um novo arranjo mundial, caracterizado pelo estabelecimento de uma estrutura governamental global.

 De todo modo, esse é um tema muito amplo e controverso que ainda cabe muitos debates em torno do fenômeno globalista que orienta a fundação de um novo conceito de mundo e sociedade, com predominância homogênea, onde o novo cidadão passa a ser um novo produto mundial e essencial. Ainda de acordo com sociólogo brasileiro Octavio Ianni, em sua obra A Era do Globalismo, o globalismo pode ser entendido como um conjunto de: […] realidades sociais, econômicas, políticas e culturais que emergem e dinamizam-se com a globalização do mundo, ou a formação da sociedade global. […] E emerge de forma particularmente evidente, em suas configurações e em seus movimentos, no fim do século XX, a partir do desabamento do mundo bipolarizado em capitalismo e comunismo. Afirma (IANNI, 1999, p. 183 e 184, grifo nosso).

Sarfati (2005, p. 189) menciona a governança global como o fenômeno no qual as instituições supranacionais aos poucos tomam o lugar das instituições nacionais, eliminando, assim, a tradicional noção de Estado-Nação. Ainda segundo Linklater (1996, apud SARFATI, 2005, p. 257) dentro das novas formas internacionais de organização, observamos “um sistema pós-westfaliano1 no qual os Estados abolem parte de seus poderes soberanos”, daí o conceito atual da extrema direita, que se trata de um movimento antidemocrático ou antipatriótico, que fomenta uma linha de pensamento alinhado ao marxismo, movimento político secular de raiz coletivista e com ideologia global e homogênea, estabelecendo novos padrões culturais e sociais, uma nova organização política em escala mundial. O que equipara aos manifestos de caráter supranacional do globalismo, com o qual se vinculou aproximando de uma nitidez os pontos de tangência entre os movimentos globalista e marxista.

Por fim, o globalismo é um movimento pouco reconhecido, mas que vem ganhando espaço nos debates de direitas no mundo ocidental, o Brasil visto como palco para laboratórios ideológicos, o termo é mencionado com frequência pelo governo Bolsonaro, antes muitas vezes empregado pelo Ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, Ambos a associam ao que chamam de “marxismo cultural”.

Há de se compreender que em torno de toda a discussão do globalismo e sua real existência ou solidez, filosofia, conceitos coletivistas, socialista ou marxista, ou mera teoria conspiratória, não podemos negligenciar as evidências de que é possível perceber as profundas mudanças culturais que vêm revolucionando as prioridades e valores que regem o comportamento da sociedade, em um contexto amplo a cada geração.

Porém diante de aspectos reais que revelam desenvolvimentos que nivelam cada vez mais os interesses das nações como o avanço das tecnologias, que torna as fronteiras regionais e geográficas cada vez mais relevantes, com exemplos concretos de uma suposta representação globalista, a União Europeia (UE). Em última instância, o objetivo da UE é criar um super estado europeu, Segundo Kałabunowska (2019), a União Europeia se tornou a personificação da globalização e da ideologia globalista para movimentos de extrema direita europeus, situação agravada pelo seu caráter supranacional, ou seja, os Estados membros cederam, voluntariamente, algum grau de soberania em determinados assuntos. Integrada hoje por 28 países-membros no mesmo território a UE é um bloco econômico e político supranacional, onde as moedas de cada nação foram abolidas em troca de uma única, o euro, e governos nacionais têm pouco poder, baseados na livre circulação de pessoas, bens e capitais, que para muitos críticos isso resulta na perda de soberania do Estado, o que explica a decisão do Reino unido de sair da União Europeia ,  o Brexit, esclarecendo a oposição entre  globalismo e globalização, e como afirma Beltrão, o que o Reino Unido quer com o Brexit é se livrar um pouco desse globalismo.

Enfim essa história ainda está longe de se definir, muitas polêmicas ainda iremos contemplar em torno de todos os questionamentos, que cabe aqui deixar um parêntese para quem sabe voltarmos a falar sobre os novos acontecimentos desse organismo político social, cultural e muitas vezes secretos.

Referenciais bibliográficos

  1. C, SARFATI, G. … São Paulo: Editora Saraiva, 2005. v. 1.

BBC NEWS Brasil

(Campo grande News)

Fundação Alexandre de Gusmão

IANNI, Octavio. A Era do globalismo. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

(1999. p. p. 183 e 184, grifo nosso) – Veja mais em https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2019/05/24/o-que-e-globalismo-que-sera-debatido-pelo-itamaraty.htm?cmpid=copiaecola

Uma resposta

  1. O mais clássico é atual exemplo de prática do globalismo é essa pandemia, que submete regras a todos, independentemente da quem seja,
    de sua condição financeira ou social.

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