Em meio à evidente crise sanitária que o mundo enfrenta agravada pela pandemia do corona vírus (covid 19), fica evidente que a desigualdade social é um fator que ainda permeia a pobreza, a miséria e a fome pelo mundo. O ano de 2020 foi de fato dramático e doloroso para todos, com a explosão dos casos de covid mundo afora, o cenário de medo e incertezas traz à tona a força do impacto dessa desigualdade e como atinge milhares de pessoas mundo afora. Em meio a essa grande crise, todos os países, principalmente os mais pobres, sofreram e ainda sofrem os maiores impactos com a perda dos empregos, a redução na renda familiar, além de ter que lidar com a doença ou medo de infectar; por outro lado, os mais ricos conseguem recuperar suas perdas em um tempo recorde comparado ao ritmo e tentativas de frear a miséria, a fome e a exclusão social e desigualdade econômica escancarada pela pandemia do covid 19.
Diante deste cenário, podemos perceber que o Brasil por sua vez está visivelmente afetado pelos impactos da crise mundial e ainda enfrenta crises internas, como a instabilidade na política e consequentemente na economia, o índice alto de desemprego, o aumento da pobreza somado aos números alarmantes de infecções e mortes pelo novo coronavírus, tudo isso deixará marcas profundas e explicitas nas próximas gerações.
O Brasil perde milhões de postos de trabalho com uma marca inédita que se aproxima dos 14 milhões de desempregados, a crise sanitária mundial revela a fragilidade do nosso mercado de trabalho, onde metade da população economicamente ativa está na informalidade, sem acesso aos direitos trabalhistas ou proteção da previdência social, a sensação que temos é que existe outro Brasil dentro do Brasil e que, de certa forma, não deixava de ser um alicerce para a economia. Dados do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e de empregados sem carteira assinada incluindo os trabalhadores domésticos atingiu a marca de 30,1 milhões, essa marca foi revelada a partir da necessidade de isolamento social, onde a renda desse número de brasileiros despencou em pouco espaço de tempo.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Economia, mais de 520 mil empresas encerraram suas atividades e 62,4% dos mais de 4 milhões de empreendimentos viram suas atividades impactadas pelas medidas de contenção do vírus e esse efeito continua potencializando os números negativos no Brasil, o efeito colateral da pandemia no mercado de trabalho já atinge 9,5 milhões de trabalhadores, a jornada reduzida de trabalho e salários e consequentemente postos de trabalhos que deixam de existir dia após dia. Todos esses efeitos na cadeia reduziram drasticamente a soma dos rendimentos de todos os trabalhadores, chegando a atingir 12 bilhões nos 3 meses mais críticos da pandemia no ano de 2020 (abril, maio e junho), comparado ao mesmo período do ano anterior. Esse efeito compromete toda a cadeia produtiva, desde a produção de bens e serviços até o consumidor final, o que impactou na economia do País e na baixa do (PIB) Produto Interno Bruto, que fechou 2020 com uma baixa de 4,1%, na comparação com 2019, o pior resultado em 24 anos, como afirmam dados do (IBGE).
Diante de toda essa realidade, observamos que a economia popular solidária surge com força total e garante o sustento alimentar de milhares de famílias em comunidades carentes espalhadas por todo País, o que vem sendo uma alternativa positiva da sociedade diante ao caos da pandemia. As palavras coletividade, empatia e solidariedade nunca tiveram tanto sentido ou efeitos quanto em 2020 e assim seguem em 2021. O isolamento distanciou as pessoas, porém a atitude solidária e coletiva aproximou-as de forma importante neste momento de crise com o objetivo de assistir aqueles que mais sofrem com os impactos socio-econômicos.
Em meio a este cenário, a economia solidária se apresenta como uma alternativa à população mais vulnerável e possibilita um novo ciclo de geração de renda e economia comum que se caracteriza um sistema econômico ou modo de produção, que acontece de forma diferente das práticas do capitalismo, esse é um movimento que ocorre no mundo todo e diz respeito à produção, consumo e distribuição de riquezas, no entanto com foco na valorização do ser humano, é uma corrente de solidariedade composta por grandes corporações, empreendimentos coletivos, associações e parte da sociedade, além de instituições que atuam diretamente nesse modelo de distribuição de recursos, como cooperativas, ONGS e grupos informais mercantis ou religiosos que já atuam como suporte em diversas comunidades em todo o País e mundo afora. A sua base compreende-se no desenvolvimento de um capital social e coletivo.
A economia solidária não é um fato recente na histária, a mesma se originou desde a Revolução Industrial, com o advento da máquina a vapor, diante de um contraste de transição nos modos de produção onde os artesãos foram expulsos dos mercados, ou substituídos pelas máquinas, na passagem do século XVIII ao XIX. ₢om o surgimento das primeiras trade unions (sindicatos) na Grã-Bretanha e também as primeiras cooperativas, porém se aprofundarmos em uma visão intercultural podemos afirmar que práticas econômicas e solidárias são milenares e que foram fundadas em princípios solidários que existiram em todos os continentes muito antes da Revolução Industrial e são estudadas até os dias atuais.
A crescente aceitação da economia solidária para muitos especialistas dá se neste momento diante da grande crise socio-econômica e sanitária que o mundo vem enfrentando com a pandemia de covid 19, que resulta em um crescimento acentuado na pobreza e no desemprego. No Brasil essa evidência também vem sendo discutida, uma vez que o movimento tem influenciado ações políticas como a aprovação do Projeto de Lei PLC 137/2017 pelo Senado. A criação da PNES (Política Nacional da Economia Solidária) tem como principal objetivo regulamentar empreendimentos no modelo de Economia Solidária, para que não fujam do seu principal objetivo, que é o coletivismo solidário, sendo assim precisam cumprir uma série de exigências para fazerem parte da PNES. Isso para barrar as inúmeras falsas cooperativas em atividade no Brasil, ou seja, que aproveitam do segmento para, por exemplo, contratar funcionários sem direitos trabalhistas, no caso de cooperativas já existe um projeto de lei em tramitação para exigir das mesmas o pagamento dos direitos trabalhistas básicos para os sócios, assim diminuiriam as cooperativas de fachada e aumentaria o desenvolvimento da Economia Solidária no Brasil.
Em uma entrevista para o site Scielo, Paul Singer, professor aposentado da Faculdade de Economia e Administração da USP e titular da Secretaria Nacional de Economia Solidária, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, afirma que após um mapeamento da economia solidária no Brasil o último resultado recente desse banco de dados apresenta 22 mil empreendimentos de economia solidária no País e movimenta cerca de R$ 12 bilhões ao ano. Isso é bem mais do que a gente havia imaginado, em 2005 tínhamos levantado quinze mil. Afirma Paul Singer.
Como ainda explica Newton Rodrigues, do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista, “No quadro que o Brasil vive hoje, o principal benefício da economia solidária é a inserção socioeconômica, mas ela não se limita a uma forma de organização econômica. A economia solidária é uma forma de vida e que se opõe ao neoliberalismo”,
Dessa forma é possível observar que esse modelo de economia é bem atuante em nosso País que, por conseguinte, revela o outro lado do aumento cada vez mais preocupante na desigualdade social, o que pode ser uma explicação para o aumento desse setor. Diante dessa realidade é importante que façamos questionamentos quanto ao índice de desigualdade social em nosso país e as alternativas encontradas pela sociedade. O estimulo desse modelo de economia seria uma resposta à permanência desse índice crescente de pobreza? Ou por outro lado esse fator contribui para a economia e distribuição de renda nas classes mais pobres? De certa forma a movimentação desse modelo econômico vem contribuindo notoriamente para o crescimento econômico de famílias e comunidades em todo o País, o que fortalece esse movimento de forma a estimular uma nova fonte de produção e consumo, ou será, o produto da desigualdade que gera renda e inverte o papel da própria desigualdade social.
Nesse contexto, a economia solidária se apresenta como uma alternativa e um novo ciclo de produção e distribuição de renda que pode ser importante no combate à fome e a miséria em país como o Brasil que apresenta um cenário cada fez mais marcado pela exclusão e desigualdade social, consequência da má distribuição de renda e políticas sociais, que possibilitaria uma de geração de renda, mas que não surtem efeitos como redução da pobreza. O que propõe a economia solidária é uma vertente do próprio mercado que se encarrega de fomentar alternativas voltadas para a melhoria na produção e qualidade de vida de seus integrantes.
E se a solidariedade é um sentimento que leva os homens a se ajudarem mutuamente, se unirem em tempos difíceis ou se colocar no lugar do outro, esse pode ser um momento propício para exercermos um dos mais importantes mandamentos, “amará o teu próximo como a si mesmo”,
Referenciais bibliográficos:
IBGE
Ministério de economia e desenvolvimento