Será que eu teria tanto apreço a ditos e causos se eu não tivesse nascido no Maranhão? Acho que não. Nos quadros da minha infância é como se houvesse sempre um dito popular para cada situação, todos saindo da boca de pessoas sábias, verdadeiros acervos de ditos e tradições.
Partindo disso, coisa mais natural para mim foi sair juntando ditos e provérbios pelos mais diversos países, aquele tipo de coisa que se faz sem pensar, sem nunca parar e perguntar o motivo.
A literatura, principalmente a de outros séculos, é um tesouro para quem coleciona ditos e provérbios. Um bom exemplo é o romance Os Malavoglia, de Giovanni Verga, que conta a história de uma família de pescadores no Sul da Itália.
A palavra malavoglia, que no romance é o sobrenome da família, vem da expressão italiana mala voglia e, literalmente, quer dizer má vontade. No entanto,essa expressão pode significar tanto preguiça como relutância, que nada tem a ver com a coíra porque relutar é resistir enquanto houver vida.
Pelo mundo, muitos trabalhos foram escritos sobre esse romance. No Brasil, encontrei um trabalho específico sobre os provérbios que nele se encontram. Se trata de um trabalho de acesso livre porque a pesquisa foi feita com dinheiro público. E vamos dar um “Viva!” à universidade pública e gratuita, que alguns trabalham para ver destruída, mas que tantos outros lutam para que aqueles lá jamais consigam, porque o conhecimento tem que estar acessível a todas as pessoas e não só a um grupo.
Dito isso, retornemos aos ditados, pois o dito em especial que me traz a esse papo tem a ver com o asno e o lugar certo de amarrá-lo, se é que um tal lugar existe. E se você é maranhense, com certeza já ouviu falar que se amarra o burro é no rabo do dono, e isso se diz quando uma pessoa fica dando murro em ponta de faca, outro dito que sempre me atraca quando penso no homo burros e em sua mania infinita de não querer raciocinar. Daí que em vez do famoso “penso, logo existo”, melhor dizer do homo burros: não penso, logo urro.
Logicamente que o dono é chamado de burro não porque tenha um rabo, mas por ser uma pessoa que, na maioria das vezes, tem preguiça de pensar.
Daí que isturdia mermo estava eu lendo um texto em italiano e topei com o dito do asno, só que em outra versão, que aqui traduzo como: se amarra o burro é onde o dono manda, significando que se o dono mandou amarrar o asno num determinado lugar, por mais que se discorde é melhor obedecer e fazer a vontade do dono porque, como diz a Sabedoria, e nesse caso eu já nem sei se foi mesmo a Dona Sabedoria quem disse esse algo, a coisa funciona desse jeitinho: “Manda quem (acha que) pode e obedece quem tem juízo”, e devo dizer que muita gente obedece não é nem porque tem juízo, é porque tem medo e coisas do tipo, ainda mais em tempos de recessão, que é quando a exploração corre solta, né bichim?
Sim, mas amarrando o burro no rabo dos donos desse planeta, que na verdade não são donos de coisa alguma, embora muitos creiam que eles sejam porque são os que mandam e têm a tal bufunfa, é que vamos destruindo o planeta para, por exemplo, fazer pasto… E como tem pasto neste mundo, não é mesmo?
Seja jumento, mula ou asno, esses animais abençoados nada têm a ver com a burrice dos seres. Jegue mesmo é quem pensa que o jumento é um animal incapaz de inteligência. Já diria Guimarães Rosa em seus contos, e também as pessoas sábias que vivem no campo, que quando um burro empaca e não vai por um caminho de jeito e maneira, melhor mesmo é se agarrar ao rabo desse asno, porque ele sim sabe por onde enfia os cascos e nem pensa em seguir as bestas que acham que mandam nesse planeta.
Talvez, quando o tempo da humanidade tiver passado, sobrem as baratas, os pastos e os asnos e, quem sabe, uns poucos livros que aos bichos foram atados, e que só por isso conseguiram sobreviver.
Daí que eu digo, que se for para sobreviver, se amarra os ditos é no rabo dos bichos.
É isso mesmo. Pode crer!