quinta-feira, 28 de março de 2024

Maysa

Publicado em 12 de março de 2021, às 10:38
Foto: Custódio Coimbra

Quando a pandemia de Covid 19 nos deixou – esse poema vindo dos seus lábios ficou na minha cabeça de muitas formas. Eu pensava assim: quando a pandemia nos deixou – os vermelhos e os dourados do céu da beira do rio Tocantins anoiteciam azuis, parecendo o interior de um aquário. O verso que Deus nos ensinou me inspirava a entoar como canção e entre aquele quando, que saía dos seus lábios brilhantes e o depois, nao houve mais nada na minha vida, e comecei dentro do tempo a levar a imagem dos teus lábios dentro de tudo aquilo que eu era, incluso o Pé de Jamelão próximo à Lagoa, O canto do Pardal e do Bem te vi, O Cardial, popular Galo de Campina, Chico Preto que revoa pelo foguete do parquinho todo fim de tarde com os Bombeirinhos, O pequeno Garricha por Ipês roxos e pela Neen, árvore indiana enfim… tudo que tenha se tornado meu durante a pandemia de Covid.

Quando a pandemia nos deixou – teu cheiro não igual ao cheiro de nenhuma outra pessoa, bem guardado e bem lembrado na curva próxima à concha acústica, foi sentido no ombro a transformar em teu pescoço, que me fazia imaginar teus lábios por cantar: fundamental – é-mesmo – o – amor- é-impossível-ser-feliz – sozinho… passando os dedos da mão direita pelo meu rosto e os dedos da mão esquerda por meus cabelos.

Quando a pandemia nos deixou – comecei o ciclo das caminhadas no sentido contrário à descida do rio Tocantins com o ciclo da humildade, com promessas a Santa Teresinha, de mais compreensão e maturidade, a degustar o acarajé e o cachorro quente da pracinha da Beira Rio, o sushi e sashimi do chef Manuel do Yudi, do novo corte de cabelo que veio com o ciclo dos finais de semana a fazer passeios pelo rio de canoa com pescadores, ou seja, a minha cidade tornando-se aos poucos um enorme leque escancarado de mil possibilidades em torno do rio, além desse mundo de agora de versos sedutores e imaginados dos seus lábios.

Quando a pandemia nos deixou – os versos do poema vindo dos seus lábios chegavam roucos, suaves, e às vezes estridentes, a me chamar amor-amor , doce com todo aquele charme especial de mulher -quase-madura-que-foi-marcada-por-ter-pego-covid, embora tenha a delicadeza de não tocar no assunto .Porque nunca deva contar pra ninguém as dores bastante sentidas por quarto de hospitais. Nunca dividiu Covid com ninguém . Nunca ninguém saberá de tudo isso ou aquilo que viveu acometida pela Covid,em que orava em torno da serena imagem de Jesus Cristo. Quando a pandemia nos deixou – o que vejo de dourado e vermelho nos finais de tarde da Beira Rio traz a bela sensação de que estás muito bem agora, com seus lábios a compor o cenário de palavras que não consigo esquecer, e por mais que o tempo passe e eu não consigamos esquecê-los, digo de um jeito seco, duro, irrevogável, que nunca mais irá voltar, pra sempre a pandemia não irá voltar, desaparecerá sem deixar nenhuma marca, nesse lindo ar azulado, onde busco unir seus lábios aos meus, a parecer o interior de um aquário.

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