domingo, 1 de dezembro de 2024

ESTA PANDEMIA VAI MATAR A TODOS

Publicado em 6 de março de 2021, às 10:01
Imagem: Free Pik

A pandemia no novo Coronavírus completou um ano esta semana (escrevo em 27 de fevereiro do ano da graça de 2021). Há um ano, portanto, a minha, a sua, a nossa, a vida de todo ser que respira e se intitula homo zapiens, que usa 10% do seu cérebro para fazer coisas fantásticas, para o bem e/ou/e para o mal, mudou. Poderoso ou miserável; poderoso e miserável; ladrão ou santo; ladrão e santo; homem, mulher, homem-e-mulher; criança, jovem, adulto, idoso, superidoso;  bom ou mau caráter; normal ou (a)normal… todos foram impactados pelas mudanças que a Covid-19 nos impôs. Mesmo que você não acredite nela, ela mudou sua vida. Ponto.

Eu não morri, como percebem. Eu não tive nenhum parente do meu núcleo duro familiar morto. Mas isso não significa que eu estou ileso. Muito, muito pelo contrário. Acho que, no Brasil e no mundo, poucas são as pessoas que podem hoje se dar ao luxo de dizer que não conhecem ninguém que pegou, adoeceu e, em muitos casos, veio a perecer pelo vírus. Eu tive vários amigos e conhecidos que tombaram, sufocados. Por uns eu me entristeci, por outros eu chorei, por todos eu sofri.

E, a não ser que você seja uma pessoa com uma capacidade de resiliência quase sobrenatural, não tem como dizer que todas essas mortes, todas essas internações, todo esse pandemônio (pandemia rima com pandemônio… coincidência?) não nos afeta. As dores pelos que partiram vão ficar na nossa alma, talvez para sempre. A sensação da incapacidade, de ver alguém sofrendo, na enfermaria, na UTI ou em casa (por opção ou falta de leitos…) vai nos assombrar ainda anos a fio. A forte impressão de estarmos presos num mundo desesperado, também. E também todas as angústias que se transformam/transformarão em ansiedade, taquicardia, tristeza, desânimo, desalento, solidão, depressão.

Há um ano, os jornais (jornal, quando eu estudei, era algo de papel; hoje é qualquer coisa que dê notícia; até a “tia do zap” virou jornal…) não falam de outra coisa. E, quando falam de outra coisa, essa outra coisa acaba tendo uma relação, mais ou menos direta, com tudo isso que tá acontecendo.

Há um ano, estamos dentro de casa – uns mais, outros menos, outros bem menos ou zero menos. Há uns seis, sete meses, vivemos a expectativa de chegar a vacina; de ter vacina para todos; de nossos idosos serem vacinados; de não furarem tanto a fila da vacina; de sentir aquela picada no braço e gozar um pouco de liberdade (libertas quae sera tamen!). Não vemos a hora de tirar essas máscaras horrorosas da cara e de deixar de nos lambuzar de álcool em gel e deixar de passar sabão no pacote de arroz e de poder chegar perto das pessoas e nos aglomerar.

Há um ano, nós estamos no meio de uma guerra de opiniões, notícias falsas, aberrações, coisas grotescas as mais grotescas das grotescas. E ficamos assistindo, bombardeados de todos os lados, ou nos metemos no meio, de um lado ou de outro, munidos também de nossos porretes cibernéticos.

Há um ano, estamos tentando fazer coisas normais, achando que, assim, vamos nos convencer de que a história segue seu curso.  Trabalhamos, nos divertimos, postamos fotos para mostrar que estamos felizes e bem-sucedidos, assistimos nossos filmes e séries, lemos nossos livros, curtimos ou comentamos a vida dos outros nas milhares de redes sociais que frequentamos, fazemos sexo e lavamos a nossa louça. Mas tudo isso parece bem aquela cena final de Titanic, em que a orquestra toca em maio ao caos…

Há um ano, nossa vida mudou. Ou melhor: fomos mudados. E não sabemos como, quando e se teremos nossa velha vida de volta.

Há um ano, estamos vindo morrendo aos poucos, em nós ou nos outros, em nós e nos outros.

Quem tem coração não sairá ileso dessa pandemia. Quando tudo isso acabar, seremos todos meio cadáveres.

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