sábado, 22 de março de 2025

Por que assistir a “Cidade Invisível”?

Publicado em 28 de fevereiro de 2021, às 7:35
Foto: Divulgação

Posso estar bem enganado, mas nunca mais tinha se ouvido falar em uma produção audiovisual sobre folclore que causasse tanto burburinho na cultura pop quanto a mais nova produção da Netflix, intitulada Cidade Invisível. Não podemos esquecer, claro, do lugar que Sítio do Pica-Pau Amarelo (2001-2007) teve nos anos 2000 e na massiva audiência que rendeu à Rede Globo e dos inúmeros produtos gerados com isso. Uma coisa é fato: todo mundo conhece alguém que já, em épocas de ensino fundamental, encenou a boneca Emília e Visconde de Sabugosa em programações escolares. E é este o ponto de reflexão.

O que é a série

Criado por Carlos Saldanha (que trabalhou em projetos como A Era do Gelo) e com roteiro dos escritores Raphael Draccon e Carolina Munhóz, a série estreou no dia 5 de fevereiro de 2021 e trouxe Eric (Marco Pigossi), como detetive da Policia Ambiental do Rio de Janeiro, que em um dia normal de trabalho, encontra um boto-cor-de-rosa na areia da praia. Outros personagens que logo identificamos é a Camila/Iara (Jessica Córes) e Inês/Cuca (Alessandra Negrini), o que já traz muitas quebras de expectativas. Das boas.

Quem pensa que vai encontrar uma Cuca depois de ter tomado a CoronaVac está muito enganado (se viveu o momento, vai entender): aqui todos os personagens folclóricos, intitulados entidades, são humanizados. A premissa básica é a de que eles vivem entre nós, no mundo atual, sem que percebamos.

Aparentemente esse equilíbrio é quebrado quando Eric se depara não mais com o cadáver de um boto, mas sim de um homem. A cidade, antes invisível, agora se desnuda e ele se vê rodeado de um conhecimento antes encoberto para ele… Vou parar por aqui, não quero estragar a experiência de quem vai assistir.

Devo assistir?

A reposta desde o início é um grande SIM e vou listar alguns porquês.

O primeiro dos motivos é que é uma produção brasileira sobre o nosso folclore disponível no maior serviço de streaming do mundo. Logo na primeira semana de lançamento, a série ficou em primeiro lugar no Brasil, em oitavo nos Estados Unidos e no top 10 em 17 países! Nas redes sociais, principalmente no Twitter, muitas pessoas de outros países manifestaram uma opinião positiva sobre o folclore nacional e até se engajaram a conhecer mais sobre.

Por mais que exista sim uma lógica comercial nesta série, o segundo ponto positivo a se destacar é a forma adulta e respeitosa como os mitos foram tratados. Figuras como Saci Pererê são imortalizados na cultura popular e de certa forma precisam de um cuidado a ser representado. Existem sim as críticas, como a não representatividade indígena e as locações. Não seria um máximo se a série fosse gravada em Belém-PA ou em Manaus-AM? Sim! Mas entendo que o fator orçamento deve ter pesado nesse processo. A série ainda tem muito a nos mostrar e a consertar certos erros. O ideal agora é esperar.

O terceiro aspecto que considero importante é o impacto nas novas gerações. Assim como o Sítio aguçou o imaginário infantil nos anos 2000, Cidade Invisível colocará, creio eu, um ponto de interrogação saudável nesta nova geração habituada ao Instagram e ao TikTok. O que é folclore? Como se configuram esses mitos? Isso está próximo de mim de alguma forma?

Por fim, considero como quarto motivo para ver a série a identificação cultural. Por ser algo nosso, que se passa em território nacional, em locais reais, é mais fácil alguém se identificar. Por mais que Harry Potter seja legal, é mais difícil a assimilação de um jovem brasileiro que nunca estudou em um internado, nunca viu neve e muito menos teve contato real com Londres, por exemplo. Cidade Invisível mostra uma magia nossa, brasileira, que se você conversar com alguém mais velho, vai ter contato direto com ela, através das mais diversas histórias passadas de geração em geração.

Gostei da série e quero mais produtos como ela. O que eu faço agora?

Cidade Invisível pode ter sido popular e inovadora em muitos termos, mas não é de longe a única produção existente. Na internet você encontra muito sobre a produção de produtos culturais a partir do folclore, como os livros Sangue de Lobo (2010), A Arma Escarlate (2011) e O Oitavo Vilarejo (2015). Já no Youtube e no Spotify, existe o Colecionador de Sacis e Folclore Br, que estão sempre engajados na luta pela produção de conteúdo e valorização do folclore.

Além disso, os livros do antropólogo Luís da Câmara Cascudo têm um papel didático nesse momento, com suas brilhantes obras a partir de seus estudos, como o Dicionário do Folclore Brasileiro (1952), Lendas Brasileiras (1945) e Geografia dos Mitos Brasileiros (1947).

Portanto, é inegável o impacto positivo que Cidade Invisível trouxe para a cultura brasileira pop. De certa forma, isso mostra que é sim possível falar de folclore, é possível ser criativo com histórias e lendas daqui e ter êxito internacional com isso.

Assista o trailer abaixo:

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