terça-feira, 10 de dezembro de 2024

A BULA DE MHARIO LINCOLN

Publicado em 14 de fevereiro de 2021, às 8:55
Imagem: Skoob

A vida é mesmo engraçada, às vezes é melhor nem se pensar nisso, porque ficamos à mercê das dúvidas, no vazio, procurando respostas para algo indecifrável. É impossível não começar esse texto com estes pensamentos de reflexão. Uma hora você é uma mera desconhecida, passam-se algumas horas apenas e sua vida dá uma guinada, é como se ultrapassássemos os portões que nos levam a outra dimensão e caímos no descompasso do tempo, límpido, claro, mas também obscuro.

O mundo literário é assim, às vezes de um instante a outro há um encontro com o inesperado. Do nada encontramos a fórmula que não estava tão distante assim, para o entendimento de muitas coisas, inclusive de si mesmo. O simples pode ser explicado. Aquilo que tanto nos questionamos às vezes está tão perto. É meio assim, que começamos a decifrar o possível ou impossível nos belos versos de A Bula dos Sete Pecados do intrépido autor Mhário Lincoln. Ao adentrar essa estrada do imaginário, o autor já nos recebe com os mais belos, simples e verdadeiros versos que compõe a obra:

Do nada, alguém chega e, aê,

 te dá o melhor abraço do mundo,

o melhor cheiro do mundo,

o melhor beijo do mundo.

FOI-SE A DEPRÊ!…

São a palavras assim, simples e de profunda eloquência, a que o ser humano deveria estar atento. Metaforicamente o “melhor abraço do mundo” pode e deve salvar os povos, se pudéssemos nos doar ao outro na pura essência da existência, talvez a humanidade pudesse descer do pedestal e olhar para baixo e ver o quão os seres humanos são HUMANOS.

 Nem de longe A Bula dos Sete Pecados pode-se dizer que seja um manual de ajuda, é sim uma leitura em que você se depara com um texto, que além de texto em si, nos leva a caminhos por linhas às vezes tortuosas e lineares, onde nós escolhemos que caminho tomar, que rumo seguir,

Fui e vim, ao largo de minha prepotência, lavando as mãos.

Foi-me dada a hora de ajuizar-me e reconhecer toda

 penúria.

Foi-me concedido o direito de rever meus mimos e padrões.

A morte, foi-me companheira ao longo desses inteiros

anos.

A contestação das coisas está em nós mesmos, mas por que não dá razão ao que queremos? E, numa perspectiva de entretenimento, o autor faz com que tenhamos uma simples leitura, agradável, sem mais preocupações. No entanto, cabe a nós leitores mais atentos a descobrir nas entrelinhas do texto o verdadeiro caminho a seguir. Pois o findar desta leitura, quem dá é o próprio leitor, que ao “fechar” o livro, deixa pistas para que, quem for um leitor mais aguçado, possa fazer um “passeio” pelas figuras de intertexto que compõem a obra.

O autor deliberadamente (ou não) ao compor cada verso de sua bela obra, faz com que o leitor, por menos exigente que seja, não fique só no superficial, mas mergulhe nas entrelinhas de cada verso, pois em cada um há uma simbologia a ser desvendada. O autor usa de uma métrica singular, com rimas simples. Parafraseando José de Ribamar Macau Dos Santos, mais conhecido como Ratinho, que participa da construção desta Bula, Mhário Lincon “deixa o leitor, bem à vontade para viajar em sua poesia leve e bonita, pois “ele (Mhário) é romântico sem ser pastoso””.

Por vezes, o autor percorre um caminho trilhado por figuras da nossa história, usando rimas brilhantes para contar ou desvelar ao leitor personagens de singular importância no mundo da cultura mundial e contemporânea, como nos versos abaixo do poema AH, HUMANIDADE:

Como andam as bruxas de Blair

As bocas amargas sem fecho-éclair

os curtos-circuitos movidos a Éclair

as delícias das fragrâncias Belle-Aire?

Os amores de Dom Descartes, René

ou o ‘ver pra crer’, de São Tomé

As garras afiadas de François Voltaire

O vendedor de virtudes, Yang Zhu, até?

 Como andam os moinhos de Quixote,

as muitas amantes de Sir Lancelot

o drama escarrado na morte de Pixote,

 o Rei do Baião de Pé-de-Serra, do Xote?

Por onde anda, de Einstein, a relatividade,

Contra Kant, Auguste Comte, a sua positividade,

 A saga de Simone de Beauvoir gritando igualdade

Acabou, Tomás de Torquemada, toda maldade?

No texto acima, o poeta nos força a procurar sumariamente saber quem são, o que foram e o que fizeram cada personagem, aliados a uma musicalidade que compõe cada verso, o texto vem carregado de intertexto, figura marcante que ajuda a compor tão singela e rica obra e que desafia  o leitor a imaginar uma  biblioteca, com suas prateleiras repletas de nomes tão importantes para a Literatura e para a Cultura.

E para não entregar, mas para aguçar a todos os leitores que se interessarem a “viajar” literalmente e descobrir qual seu pecado, Mhario Linconl, não poderia deixar faltar em seu livro, coisas que acompanham a humanidade há milênios de anos, os prazeres (paixões), a essência da vida (coração) e o que sustenta o tronco humano (as chinelas),

CICLO DOIS

Ei moço!

Vc viu uma sandália perdida por aí?

 Insiste em ficar sozinha

Do que agasalhar os pés de um Poeta que pisou em flores

Para matar paixões.

E para fechar, dizer que a vida, além de engraçada, ela é um ciclo, que tem início, meio e fim, como os Três Ciclos criados por Mhário Linconl na BULA DOS SETE PECADOS.

Uma resposta

  1. Boa leitura a feita por Lindalva Barros. Daquele tipo de análise que, antes de tentar exaurir o texto e afastar desgastado o possível leitor, chama para as belezas do texto, atraindo leitores para sua exegese particular

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