Fortaleza, 31 de Janeiro de 2020
Estou aqui, parado na mesa do Bar Itaparika, na praia do Futuro, com sua carta na mãos, sem fazer absolutamente nada além de respirar através da máscara e sentir muita saudade, ouvindo um jazz no rádio com o calor do começo de verão e o suor escorrendo pelo meu corpo a começar a molhar as mãos e a dissolver a tinta das letras de sua carta – só quero que não demore a vir me ver, não é de praxe moças bonitas como você deixar alguém esperando tanto, tanto.
O gosto das lágrimas chega a partir do momento em que leio a sua incompreensão com os humanos supremacistas cuja vaidade, moralismo e atormentada ambivalência os deixam singularmente infelizes e destrutivos e desta forma enxugo as minhas lágrimas com o guardanapo da mesa que não acaba mais, com os quais procuro também o cheiro dos teus dedos, que como passarinhos na manhã anterior procuravam soltos o ninho no meu peito como abrigo, despencados de voos cansativos. Poderia escrevê-la agora eu- quero- -viver-pra-sempre-com -você, e assim penso no que você escreve, quando você afirma que a consciência humana é superestimada, o que concordo e chama atenção com isso, da ansiedade alardeada que temos com a capacidade de pensamentos abstratos muitas das vezes trazendo problemas a nós mesmos, onde embora sejamos a única espécie a empreender a investigação cientifica, somos também a espécie que perpetrou genocídios conscientemente (que vergonha!que tristeza!! a pandemia em que nos encontramos, e diante de perdas agora temos que reconstruir outros modos de vida).
Entendo, Cris, suas palavras quando afirma que os humanos gostam de se considerar especiais, e o que os torna especial também os faz ser os piores. Gosto de sua intuição felina e quero aprender com voce, gata, a aliviar o fardo que carrego como ser humano, e na sua companhia, construir uma relação unida pela não dominação e submissão, a não seguir nenhuma das hierarquias estabelecidas que moldam as interações entre humanos, quero viver ao teu lado sentindo desejo pelo teu desejo, alegria pela tua alegria, e beleza por tua beleza, criando circunstâncias felizes em teu convívio, por isso, gata, sentir desejo pela alegria, beleza pelo desejo e alegria pela beleza, e uma coisa fique certa: “a porta vai estar sempre aberta, amor o meu olhar vai dar uma festa, amor na hora que você chegar…”.
E que possamos criar desta relação 2021 poesias deste encontro de nossas expressões corporais a ronronar de prazeres e a romantizar, através de cartas, as sujeiras humanas, ronronando desse diálogo a terapia de sermos mutantes a sempre criar, viver e perder medo e coisas, brincar, semear canções ao vento, revolucionando o amor que temos um pelo outro como vocação, a sempre sermos felizes e autênticos.
Te amo
Feliz ano novo!!
Um beijo do teu