Agostinho Noleto – Advogado, educador, escritor e membro da Academia Imperatrizense de Letras (cadeira n. 25)
Depois de percorrer os caminhos do desenvolvimento urbano de Imperatriz, me vem agora a oportunidade de discorrer sobre os estágios da organização social da cidade pós advento da rodovia Belém-Brasília, que virou pelo avesso as relações sociais então existentes entre as famílias do antigo núcleo social formador da população da pequenina “Sibéria Maranhense”. Ao escrever ou falar desse assunto, tenho me valido das memórias estampadas em meu livro “O Portal da Amazônia”, fonte e referência de muitos acontecimentos da população Imperatrizense, nos últimos 60 anos.
Lá pelos idos de 1960, Imperatriz, marcada pela explosão demográfica produzida pelas correntes migratórias em busca de terras da pré-Amazônia maranhense descobertas pela rodovia Belém-Brasília, vivia inesperada efervescência com a presença de forasteiros e aventureiros de toda sorte, causando verdadeiro estrago na equilibrada relação social da época. Nova gente, novos costumes, novas fontes de riqueza e, sobretudo, a influência avassaladora de outras culturas sobre a cultura nativa, desmantelaram a organização social, na qual todos se conheciam e se respeitavam, em harmoniosa convivência.
Os colonizadores intimidavam a cultura nativa, que oferecia tímida resistência e se fechava, mas não absorvia a dominação, porque a cultura adventícia era difusa, desorganizada e sem qualquer propósito orientador. A próspera economia da nova fronteira agrícola produzia um caldo sociocultural que a população não sabia como absorver.
Tentativas foram feitas no sentido de dar alguma direção ao fenômeno socioeconômico. Pontos de encontros foram organizados com o propósito de atrair as pessoas em busca de boa convivência. Traziam, no entanto, quase sempre o inconveniente de juntar pessoas de diferentes matizes. As famílias antigas e adventícias reclamavam da presença de moças desconhecidas que todos sabiam frequentar simultaneamente esses lugares e os inúmeros cabarés da cidade.
Urgia planejar coisa melhor para o desenvolvimento social. Foi quando surgiu a ideia de criar-se um clube social digno de respeito e de fácil controle dos frequentadores. Conta a crônica social da cidade, e eu reproduzo tal qual ouvi, que na primeira festa dançante os dirigentes não se entendiam com os frequentadores e grande burburinho impedia o divertimento saudável e a paz desejada. Eis que um dos mais respeitáveis cidadãos da cidade sacou o revólver e deu dois tiros para o alto. Na quebra instantânea da confusão, e ainda com o braço erguido, o bravo cavalheiro gritou:
“Vamos moralizar essa porra!”
O fracasso do primeiro clube ajudou muito na organização do “Clube Tocantins”. Mais rigor na escolha dos sócios, distribuição de carteirinhas e punição para o comportamento antissocial. Portaria bem organizada com a presença de diretores e outras medidas profiláticas fizeram do Clube Tocantins um ponto de referência social, durante muitos anos e até enquanto durou o costume, em todo o país, de frequentar clubes sociais.
Outros clubes sociais de grande prestígio surgiram na cidade ao longo do Século XX, contribuindo para estabilidade das relações intersociais e se nota, nos dias de hoje, uma forte marca de identidade cultural de Imperatriz, manifestada nos festivais de música e cultura popular, nos seus poetas e escritores, na sua Academia de Letras e Salão do Livro, artistas, professores e alunos das muitas unidades de ensino superior, para muito além do simples congraçamento social, inicialmente desejado e implantado com esforço.
Tudo isso está marcado na nova geração genuinamente imperatrizense, que ostenta justo orgulho de sua terra, bela, pujante e moderna.