quinta-feira, 28 de março de 2024

O INCÔMODO SILÊNCIO

Publicado em 29 de novembro de 2020, às 18:03
Imagem: Vida Simples

José Neres – Professor. Membro da AML e da Sobrames.

Geralmente, as pessoas reclamam do excesso de barulho a incomodar as boas e reconfortantes noites de sono. Quando se trata de uma festa ou de qualquer outro evento mal programado, é comum que um vizinho menos festeiro pegue o telefone e faça uma denúncia anônima para uma espécie de Disk-Silêncio. Em boa parte dos casos o problema é prontamente resolvido, e as pessoas incomodadas podem desfrutar de seu tranquilo e restaurador sono.

 No entanto, há algo que incomoda muito mais que o barulho das festas: o silêncio cultural que envolve todo o nosso Estado, talvez todo o nosso País. E isso, infelizmente, uma simples denúncia não tem o poder de solucionar.

O Maranhão é nacionalmente conhecido por oferecer ao Brasil como um todo nomes de inegável valor artístico. Na música, nas letras, nas artes plásticas ou em qualquer outra forma de expressão artístico-cultural há sempre um ou mais nomes de personalidades maranhenses a constar da lista dos mais significativos expoentes da plêiade. Contudo, quando se trata de divulgar seus valores dentro do próprio Estado, parece que o adágio popular que diz que “santo de casa não faz milagres” é levado bastante a sério.

Pouco parece importar se todos os anos dezenas de livros são publicados, se várias exposições são organizadas, se muitas músicas são lançadas e se inúmeras palestras são proferidas. Os artistas, com muito esforço, conseguem algum espaço na mídia, mas a divulgação se limita à indicação do local e da data do evento, seguidos de alguns comentários bem gerais e, normalmente, isentos de qualquer senso crítico. Passada a euforia da exposição de seu trabalho ao público, o artista novamente se vê relegado ao limbo do ostracismo. O silêncio que paira sobre sua produção intelectual supera em muito os esforços despendidos para a divulgação da mesma. Por causa disso, não é incomum encontrar pessoas de promissor talento que deixaram de publicar seus trabalhos e que trocaram a alegria das experiências artísticas pela dor da decepção.

Em casos assim, engavetar projetos torna-se o meio mais simples de evitar o constrangimento de se ver sozinho com a família e alguns poucos amigos no meio de um salão, durante uma solenidade projetada para dezenas de pessoas. Quando o dono do evento já tem um nome consolidado ou tem contatos com a mídia, consegue uma boa divulgação, concede entrevistas à imprensa e tem alguns poucos minutos de glória, mas nem isso é garantia de público. Mesmo quando há um bom número de pessoas presentes à exposição, ao show ou ao lançamento, fica sempre presente na cabeça do artista a quase certeza de que uma semana após a festividade seu nome continuará tão esquecido quanto antes.

Folheando os jornais diários, qualquer leitor poderá encontrar uma grande quantidade de páginas destinadas ao colunismo social, às festas de uma elite economicamente dominante, aos resultados dos jogos… e quase nada destinado aos aspectos culturais e à divulgação de ideias verdadeiramente relevantes. Mais uma prova de que as futilidades do dia a dia são bem mais importantes que as tentativas de produzir algo que contribua com a formação geral do povo.

Infelizmente, enquanto muitos vivem preocupando-se com os ruídos das festas e das casas de espetáculos –  algo fácil de ser resolvido – a maioria das pessoas dormem tranquilamente embaladas pelo assombroso silêncio cultural que serve, ao mesmo tempo, de véu, máscara  e  mortalha para um povo que  outrora se orgulhava de  poder passear de cabeça erguida por um estado que tinha como capital uma agora quase esquecida Atenas Brasileira.

É… Esse tipo de silêncio realmente incomoda! E como incomoda…

3 respostas

  1. Por isso mesmo… também fico em silêncio.

    Tempos atrás, quando de assinar algo em “coluna” de periódico, num muito mini CV, logo após registar “membro fundador da AIL- Cadeira 16 (patrono: MOURÃO RANGEL)”… acrescentava, sic, “Nenhum livro publicado”…
    Isso há coisa de 10/15 anos
    Curioso é que, passados tantos anos, NINGUÉM questionou, nem por escrito nem presencialmente, sobre o porquê…
    Até nisso, predominou o recorrido SILÈNCIO.

    E sigo trabalhando “meus” HAICAIs; e, às vezes, caindo na tentação de algum conto ou crônica.
    Trabalhando, por coerência (?) em silêncio…

  2. É impressionante como se vive a propalar o passado maranhense, ao mesmo tempo que , no presente, qualquer futilidade ganha espaço institucional e midiático enquanto enquanto trabalhos de consistência intelectual são relegados ao silêncio, à indiferença, à desimportância – como se a construção desse presente também não fosse importante para essas mesmas instituições, mídias e para um “capital cultural” do lugar, que eleva as variedades, em vez de valores sólidos e permanentes. Os fortes lutam, essa é sua índole. Eu, confesso, não sou tão forte assim.

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