domingo, 10 de novembro de 2024

Mulheres na política e contra o feminismo: um paradoxo

Publicado em 18 de novembro de 2020, às 9:06
Imagem: Educação e Transformação.

Hyana Reis – Jornalista

Nessas últimas eleições municipais fomos espectadores de um fenômeno no mínimo contraditório: o de candidatas que proferiam discurso contra o feminismo. Um paradoxo do mundo moderno, já que, sem o movimento, essas mulheres jamais poderiam ocupar o lugar de candidatas. Sem o feminismo, não teríamos sequer direito ao voto.

A palavra “feminismo” se tornou o novo bicho papão dos conservadores, machistas e preconceituosos. O que era um movimento que lutava pela igualdade entre os gêneros se tornou, aos olhos da sociedade, uma palavra que indica radicalismo, sinônimo de guerra contra os homens, aos bons costumes e à estética “feminina”.

Se dizer contra o feminismo hoje representa que se é a favor da “moral e dos bons costumes”, valores que (infelizmente) estão cada vez mais acerbados em uma sociedade que mergulha cada dia mais no conservadorismo.

Se declarar feminista, pelo contrário, é estereotipado como uma mulher que deseja a morte de todos os homens, de todos os fetos, e de “não raspar os pelos do corpo”. Estereótipo que candidatas aos cargos públicos pareciam ter medo de serem taxadas durante as eleições.

Em Imperatriz, apenas uma mulher concorria para ocupar o cargo máximo na Prefeitura. Em um partido declaradamente de direita e conversador, a candidata proferia frases como “mulher vota em mulher” e “lugar de mulher é onde ela quiser”, uma das máximas do feminismo. Contraditoriamente, foi a mesma candidata que declarou ser contra o movimento.

A ignorância e preconceito ao movimento feminista parece impedir a população de conhecer o movimento pelo que de fato luta: o direito das mulheres. Foi através dele que conquistamos o direito ao voto, a ocupar cargos no mercado de trabalho, e também o de poder concorrer a vagas legislativas.

Não se declarar feminista é diferente de se proclamar contra o movimento. Ter suas críticas e reservas quanto ao movimento e o que ele representa é pessoal e direito de cada cidadão e cidadã, mas colocar-se em oposição ao um movimento que lhe garantiu o local de fala não somente enfraquece o movimento como justifica uma futura perda de direitos conquistados com a dor, sofrimento e a vida de mulheres que se sacrificaram para lhe garantir o direito de se expressar.

As últimas eleições e as objeções ao movimento feminista me fizeram lembrar a distopia “O conto da Aia”, um livro onde mulheres perdem todos os seus direitos, incluindo o de ler, escrever, falar e o de escolher o próprio marido.

Lembro de ler a obra de Margaret Atwood e pensar o quão absurdo e fora da realidade era o fato de, na história, este movimento ter tido o apoio das próprias mulheres (não todas). E agora, ver isso acontecer diante dos meus olhos, é a prova de que nenhuma história absurda é páreo para o Brasil. Já vivemos as piores das distopias.

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