quinta-feira, 28 de março de 2024

Entrevista: José Edilmar de Sousa – ENTRE A CIÊNCIA E A POESIA

Publicado em 16 de novembro de 2020, às 15:19
Foto: do autotr

A entrevista desta segunda é sobre o ato de escrever. Um ato que, para este entrevistado, une duas pontas, aparentemente distintas, que ele junta no fazer criativo: a ciência e a poesia. José Edilmar de Sousa, doutor em Educação e professor do Curso de Pedagogia da Ufma Imperatriz, traz belas reflexões sobre como, na sua vida, a poesia ganhou um espaço importante – tanto quanto o da educação e o da ciência. E nos mostra que, sim, é possível pensar a ciência com a leveza da poesia. Acompanhe.

Da Redação

Região Tocantina – como foi o seu encontro com a poesia?

José Edilmar – O encontro com a poesia me remete aos processos iniciais de escolarização. À  época, quando fui alfabetizado aos sete anos na cidade interiorana de Aracoiaba-CE, a experiência de aprendizagem da leitura marcou o início de uma  trajetória de muitos prazeres com a leitura e a escrita. O acesso à  literatura se restringia a trechos encontrados em livros didáticos. Havia uma coleção que geralmente trazia, no início das lições, um poema de algum autor clássico ou de outros que não lembro. Dali em diante tenho uma grande paixão por ler e escrever, porém em termos de leitura, o acesso era ínfimo ou quase zero a obras clássicas ou de grande porte. Ao longo dos anos, escrevia de forma anônima cujos manuscritos mantinha guardados. Com o crescimento das redes sociais, passei a partilhar timidamente alguns versos publicamente. Porém, somente em 2015 depois de uma experiência epifânica com um passarinho dentro de casa, foi quando escrevi um verso narrando a experiência e chamou muito a atenção das pessoas que leram nas redes sociais. Passei a me encorajar a partilhar os versos via Whatsapp e demais redes sociais. Depois de escrever  “O Pássaro e a Porta”, as portas da poesia se escancaram para mim em um momento difícil da vida e funcionando de modo terapêutico para mim, inclusive meu terapeuta passou a incentivar a partilha dos meus escritos, ao saber do prazer que isso me proporcionava.

Região Tocantina – A trajetória da ciência atrapalha ou ajuda a da poesia?

José Edilmar – Para quem se apaixona pela poesia e encontra nela  uma forma de exercício de resiliência,  ela jamais será um empecilho. Na  minha experiência pessoal como pesquisador e aprendiz da poesia, posso  afirmar seguramente que o fazer científico e o fazer poético se retroalimentam.  Primeiro e especialmente porque em minha tese, conheci trajetórias de escrita de estudantes de Pedagogia e, nesse processo, acessei muitas histórias que me inspiraram a escrita de versos. Algumas análises da tese nasceram de insghits poéticos e alguns poemas nasceram de reflexões em torno das trajetórias dos estudantes e das minhas próprias. Além desse entrelaçamento, posso dizer que o fazer poético serviu ao meu fazer científico nos momentos de angústia e ansiedade característicos de quem produz trabalhos acadêmicos, especialmente uma tese de doutorado.  Ademais a poesia tem um efeito terapêutico na vida de um pesquisador  da educação, que se vê antes de tudo como um aprendiz da poesia, assim como da vida  e por que não dizer da própria ciência.

Região Tocantina – Você consegue se dividir entre os dois formatos de pensamento?

José Edilmar – Por ter como objeto de estudo justamente a escrita e de modo mais específico as trajetórias de escrita de estudantes de Pedagogia, transito com certa tranquilidade entre ambos. Minha paixão pela escrita, em seus diferentes modos, contribui para compreender as distinções próprias de cada gênero. No entanto,  devo  considerar que escrever  poesia é  muito mais apaixonante que uma tese, artigos, resenha etc, haja vista a liberdade que a licença poética nos possibilita, ao contrário da escrita acadêmico-científica, que obedece a uma série de normativas que  podem cercear, em certa medida, a criatividade do pesquisador.  Todavia, como afirma o Prof. Charles Bazermann escrever é  sempre um ato criativo, então acredito ser possível escrever cientificamente com a leveza análoga à da poesia. Digo análoga porque reconheço alguns limites que a escrita acadêmica impõe.

Região Tocantina – É possível pensar a ciência com poesia?

José Edilmar – Sem sombra de dúvidas. A ciência seria muito mais leve se fosse mais poética. Contudo, como falei na questão anterior, a escrita acadêmica impõe alguns limites. O desafio está  em fazer ciência com a leveza da poesia, porém, sem perder de vista as especificidades de cada gênero. Não é possível uma forma pela outra, porém é  possível fundi-las …

Região Tocantina – Quais suas influências poéticas?

José Edilmar – Uma grande amiga poetisa tem me estimulado ao longo dos últimos anos a escrever e compartilhar meus textos. Sua influência é  tão importante que  eu a convidei para prefaciar meu livro “Viver na Companhia dos Pássaros sob a Direção do Vento”. A Professora Celiane Oliveira dos Santos é  uma grande incentivadora.

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