quinta-feira, 20 de março de 2025

Entrevista: Axel Britto – Um novo mundo para a arte pós-pandemia

Publicado em 9 de novembro de 2020, às 16:08

Da Redação

Foto: arquivo do autor

Um dos setores que mais sentiram o impacto da pandemia do Novo Coronavírus foi o mercado da arte. Literatura, música, artes plásticas e visuais, teatro, todos tiveram que, depois de sentirem o impacto do isolamento social, se reinventar para procurar saídas para sua expressão, sua captação de público e a sobrevivência dos fazedores artísticos. Do seu negócio, enfim. Mas não foi só isso que mudou. Nesta entrevista, o músico, escritor e produtor cultural Axel Britto reflete (e nos faz refletir) sobre como o mundo artístico sairá deste momento, o que foi até agora positivo e negativo e – mais importante: para onde vamos. Confira.

Região Tocantina – A pandemia estabeleceu uma crise no mundo das artes?

Axel Britto – Sim, há uma crise e estudos apontam que, com o distanciamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, os prejuízos da cultura no Brasil podem superar a casa dos R$ 100 bilhões e assim por outro lado há em trânsito, ao meu ver, positivo e transcende o momento, pautado na criatividade, que é a reavaliação de como se faz e veicula arte no País, partindo disso, surgirá o  “Figital”, que irá reunir o que acontece no mundo digital e físico, ao mesmo tempo, dando ao artista e toda cadeia produtiva novas formas, novos meios e repertórios que irão somar aos já existentes, dando à produção cultural formas muito maiores dentro das quais o artista pode se mover.

Região Tocantina – Como você avalia que ficará a produção cultural depois da pandemia?

Axel Britto – No meu pensamento, com a diminuição da velocidade, imposta pelo distanciamento, as pessoas tiveram oportunidade de reavaliar tudo que estavam consumindo, tudo que estava sendo imposto sem poder digerir, somando pensamentos retrógrados de governos autoritários junto à própria indústria cultural, estavam limitando o ser humano como o que apenas trabalha e come, “um cadáver que procria”, como diria Fernando Pessoa, e assim dispondo de mais tempo e escolhas, tiveram oportunidade de assistir lives musicais, cênicas, por plataformas, ver exposições plasticas, assistir a filmes, séries, e assim estão mais exigentes,  aptas a absorver qualitativamente coisas boas, gerando espaços para a uma produção cultural mais voltada para a  invenção, surpreendente, rica em informações, clara, curiosa e menos de retórica vazia, artificial, oportunista, comodista. Tenho perpesctiva feliz e criativa e torço devido às diversas alternativas (tecnológicas, artísticas, comportamentais ) que toda cadeia artística possa reverberar a uma cultura de formação e projeção híbrida, voltada para a mistura de linguagens, como por exemplo, a poesia se misturando com outros códigos, como a música, o vídeo, com o plástico e etc…

Região Tocantina – Qual foi o impacto da pandemia na produção cultural brasileira?

Axel Britto – O surgimento de impulsos a partir da palavra “Ensaio”,onde toda cadeia produtiva se reinventou diante de soluções que estavam dando certo, que o faziam sentar na cadeira e se conformarem, para se impulsionarem ao ensaio de modos de produção, de coisas novas na posição artística e na vida e assim como toda sociedade, está aprendendo a permear, a sobreviver e a se reinventar, tendo a arte como um instrumento nesse processo, ressignificando afetos e pensamentos. Portanto, o momento, acredito, é para se pensar numa nova relação com o público, mais qualitativa: é hora para desacelerar, dentro do ambiente das artes. Os espaços físicos das artes plásticas, por exemplo, tendem a voltar e se comportarem com os hábitos adquiridos, com cuidados de higiene, controle do número de acessos a visitantes, redução de programação, ampliação do tempo das exposições, com as coisas pouco a pouco se ajustando, onde entra também o trabalho em rede se intensificando…

Região Tocantina – Você acredita que a pandemia estabeleceu um novo formato para o mundo das artes?

Axel Britto – Há em curso uma reavaliação de modos de produção, visando o público que consome, e assim novos caminhos estão surgindo, como por exemplo, nas artes plásticas, plataformas estão sendo criadas para os artistas visuais poderem divulgar e distribuir seus trabalhos, na música as lives, na literatura as editoras grandes e independentes explorando o formato e-book, audiolivros e o sistema POD (print ok Demand ), no qual os exemplares comprados são impressos sob demanda e entregues diretamente na casa do leitor, e assim por redes sociais também, envio de vídeos caseiros com narrativas de confinamento, ou seja, as pessoas estão mais conectadas do que nunca e há uma expansão do virtual sem precedentes, o que tem permitido para a cadeia artística conquistar novos públicos e territórios e reavaliar toda cadeia produtiva e vias de mercado.

Região Tocantina – É possível avaliar o impacto das tecnologias sobre o mercado da arte, fruto da pandemia?

Axel Britto – As pessoas estão se reinventando, por necessidades e iniciativa própria, desenvolvendo atividades e absorvendo cada vez mais com dependência as plataformas digitais e assim as expressões artísticas vêm alcançando modificações expressivas em seu conteúdo, forma e estilo, gerando meios de expansão da  comercialização e difusão da atividade artística, a partir de aparatos tecnológicos, pensados como um elo que apresenta a arte como um território sem fronteiras e ao mesmo tempo um território para questionar as fronteiras entre gêneros, linguagens, entre repertórios, entre popular e culto, o sofisticado e a cultura de massa, de inserir dimensões multimídia ao artista, como na música, que se tem que pensar também no clipe, no site, no cenário de shows, na dança, na roupa, como você pode fazer também uma trilha para um filme, um espetáculo de dança, uma instalação plástica e etc…. daí a tecnologia, cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, ampliada na pandemia na qual se absorve mais com o tempo, favorecendo  a expansão da circulação da informação dessa amplitude artística, como um território de liberdade que facilita o convívio com a diferença, o enriquecimento como meio de informações novas e de outros povos. Administro um grupo via whatszap o  “PRODUÇÕES CRIATIVAS”, formado por artistas e produtores culturais presentes nos 4 continentes  em 30 países e 75 cidades,  na qual é perceptível a ideia, de alto quilate artístico, que é a motivação de gerar ações interligadas entre seus membros, de se expandir, de alcançar diálogos através da atividade artística de forma conjunta, direcionando a uma nova forma de expor, de mostrar pensamentos, de união, de abrangência ampla de suas criatividades, no afã persecutório de um sonho, que vai tendencionar a apontar, trilhar caminhos a serem alcançados, potencializando linguagens que se atraem ao enigma do mundo, tendo um simples raio de sol batendo de soslaio .

Região Tocantina – Mas essa vinda do digital para a cultura/arte também tem um lado positivo?

Axel Britto – Sim, acessibilidade livre a informações que não tem mais volta e assim trocas de músicas, textos, imagens, softwares e filmes via internet, com os meios digitais impondo uma situação nova para as relações sociais e financeiras em torno da criação artística  e assim também a recriação de links entre linguagens, que com o tempo a civilização separou . Na sociedade primitiva não há separação entre a vida e a arte. A música relacionada à dança, a

um culto, por exemplo, a civilização separou, literatura para ser lida, música para ser ouvida, artes plásticas para ser vista e a tecnologia resgata, você passa a ter trabalhos visuais que usam palavras, poemas sonoros, ou seja, a tecnologia traz a fluência entre diferentes códigos na arte, na cultura .

Região Tocantina – O poder público conseguiu ajudar os artistas durante a pandemia?

Axel Britto – Sim, há através das leis de incentivo, tanto do município quanto do estado e federal, o financiamento público da cultura a projetos em toda sua cadeia, contemplando vários segmentos artísticos, em um justo reconhecimento, mas se torna necessário se pensar em aparatos maiores para Cultura, para que esta ação não possa ser vista como a única carta na manga para a recuperação das atividades culturais, que se possa refletir, por exemplo, sobre o ensino de Música nas escolas de ensino fundamental, sobre a defesa de um currículo escolar que insira a música, pois esse valor cultural e educativo que a música tem deveria ser repensado, assim como também isenção de impostos para CDs e DVDs produzidos no país, melhor controle dos direitos autorais, enfim… formas de ampliar a valorização de partes importantes da cultura.

Região Tocantina – O futuro para a arte, pós-pandemia, é esperançoso?

Tenho perspectiva feliz, penso em um mundo sem fronteiras geográficas, a “terra como um útero” com toda cadeia artística se preparando para um nascimento grupal, conjunto com os artistas e produtores culturais chamando atenção para a degradação,

deterioração da linguagem, das palavras, muito evidenciado hoje com os Fake News, e assim se posicionando através de seus trabalhos em defesa dos direitos humanos, da liberdade de expressão, da democracia, da liberdade, dos valores básicos, primários, civilizatório como valor de vida, que faça com que as pessoas possam reacreditar na linguagem da comunicação, dos afetos, das cores, dos sons, do valor das palavras, e assim a arte possa, cada vez mais, através dos artistas cuidar, prezar o código, as possibilidades de diálogos, de uso preciso da linguagem.

Uma resposta

  1. Fica uma matéria sem muita contribuição, precisamos questionar o nosso espaço. Axel trabalha na Fundação Cultural, o que objetivamente ela tem feito pelos fazedores culturais?… Foram quatro presidentes e nenhum projeto cultural que se conheça pra cidade.

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