sexta-feira, 29 de março de 2024

Entrevista – Marco Antonio Gehlen: Os caminhos para a criação da nova universidade federal no Maranhão

Publicado em 26 de outubro de 2020, às 16:35
Marco Gehlen: “O Movimento Nova Federal possui hoje capilaridade”.

Da Redação

Desde o começo deste ano, houve uma grande movimentação do assunto da criação de uma nova universidade federal para a região do sul do estado. A ideia, que não é nova e remonta aos anos 1990, ganhou força com o projeto que caminha no senado federal, de autoria do senador Roberto Rocha (PSDB-MA). Isso motivou a criação do Movimento Nova Federal Maranhão, formado por professores, técnicos, alunos e pessoas da sociedade, principalmente dos municípios de Imperatriz, Grajaú e Balsas. Nesta entrevista, o professor Marco Antonio Gehlen, que integra a Comissão Central do Movimento, fala do cenário e das ações para a concretização desta nova universidade. Acompanhe.

Região Tocantina – Este movimento de criação de uma nova federal para o Maranhão é novo?

Marco Gehlen – Nos últimos anos, vimos vários projetos anunciados por políticos prometendo a criação de uma nova federal no Maranhão. Isso tem sido recorrente. Também já existiram outros movimentos autênticos de docentes pedindo a criação de uma nova universidade. No entanto, esses movimentos foram desmobilizados diante da avaliação de um cenário político desfavorável para tais criações. O Movimento Nova Federal Maranhão foi atualmente impulsionado pela percepção de um grupo de docentes, técnicos e alunos, de diversos campi maranhenses, de que havia discussão adiantada, novamente, propondo a criação da nova UF, sem que a comunidade acadêmica estivesse participando do debate. Isso levou à criação de um novo movimento com o intuito de cobrar e incentivar propostas políticas que possam de fato sair do papel. Há ainda um lado propositivo no Movimento, sob o qual estão sendo desenvolvidos estudos, levantamentos em documentos, pesquisas etc. para oferecer ao Executivo e Legislativo uma proposta concreta de nova universidade, ou seja, um projeto com configuração que parta da comunidade acadêmica e não apenas, eventualmente, venha de cima pra baixo.


Região Tocantina – Como estão as movimentações em Brasília para que isso saia do papel?

Marco Gehlen – O Movimento Nova Federal Maranhão tem esse nome para se posicionar como “neutro” quanto aos nomes já propostos para a nova universidade (como UFMASUL, entre outros) e, também, há intenção do Movimento em se manter neutro do ponto de vista político. “Neutro” não no sentido de que não apoiaremos políticos, mas no sentido de que o movimento poderá apoiar projetos de políticos diversos, independente de partidos, desde que sejam bons e voltados para a criação da nova universidade. Recentemente, no entanto, o projeto tido como mais adiantado e com possibilidade real de sair do papel, muito anunciado também em eventos públicos, é a proposta do senador Roberto Rocha, que defende a criação da universidade denominada por ele como UFAMA (Universidade Federal da Amazônia Maranhense). Digo isso para responder que, hoje, o senador é o mais interessado no projeto e, portanto, o principal articulador junto ao Executivo Federal para a criação da nova universidade. E o nosso Movimento, acompanhando essas tratativas, avaliou que seria importante oferecer ao senador uma boa proposta de projeto universitário, além de apoio para tal aprovação. As movimentações, ao que percebemos, andam em bom ritmo, com o senador promovendo encontros, inclusive com o ministro da Educação, para tratar do tema. Toda preocupação está centrada, no entanto, em conseguir orçamento para tal criação.


Região Tocantina – O senhor acha que já existem condições reais de se ter uma Nova Universidade Federal nesta região?

Marco Gehlen – Já temos campi da universidade aqui em Grajaú, Balsas e Imperatriz. O que não temos é autonomia, nem orçamento próprio, para administrar nossos próprios problemas e nem para explorar as potencialidades regionais. A Universidade Federal do Maranhão tem nove campi, alguns a mais de 600 km de distância da “UFMA-matriz”, em São Luís. Todos os outros estados do Nordeste têm mais de uma universidade federal, mas nós continuamos com a lógica de campi espalhados e distantes, e a centralização das decisões na ilha. Embora algumas gestões universitárias possam dar mais apoio aos campi de interior, não há como imaginar que uma gestão alocada em São Luís consiga compreender as necessidades universitárias, por exemplo, de Açailândia, Porto Franco, para citar apenas dois exemplos de cidades da região que podem ser beneficiadas com uma universidade aqui, sem contar, diretamente, Imperatriz, Balsas e Grajaú, onde a universidade imediatamente já teria seus campis. As condições são amparadas, então, na autonomia, principalmente, para aproveitamento das potencialidades locais. E digo “locais” considerando todos os municípios que podem ser beneficiados na região.

Região Tocantina – Na sua opinião, este processo demora ainda?

Marco Gehlen – Oprojeto demanda uma solução orçamentária, mas havendo vontade do Executivo, possivelmente, isso seria resolvido rapidamente. O saldo político decorrente de tal criação também pode favorecer que Legislativo e Executivo se alinhem em parceria para criar a universidade, que é o que vem sendo sinalizado. Os anúncios públicos do senador Roberto Rocha ao menos parecem alicerçados em alguma possibilidade concreta, pois há muita veemência e aposta do senador ao prometer a universidade. Como Movimento, vamos acompanhar e oferecer um projeto de universidade que ampare a criação, torcer para os diálogos serem concretos e para o projeto sair do papel. Neste sentido acreditamos que o projeto saia, sim, logo. Por outro lado, queremos preparar nosso Movimento para apoiar, hoje, este projeto, mas continuar nossas ações caso precisemos ainda alguns anos e novos agentes frente a mandatos até que a universidade seja criada. Certo é que a nova universidade aqui na região vai ser criada.


Região Tocantina – E, quando for criada, como fica o processo de desmembramento da UFMA?

Marco Gehlen – O alinhamento que notamos recentemente – e que justificou a criação do Movimento Nova Federal Maranhão em busca de participarmos mais do processo – é que, pela primeira vez, parece haver apoio de diversas instâncias à ideia. Além do senador e sua boa relação com o Executivo, temos, desta vez, o apoio do reitor da UFMA, professor Natalino Salgado Filho, ao desmembramento ou criação da nova UF. Isso é de grande importância para nossa crença atual de que o momento para a criação possa ser favorecido. A reitoria apoiando a proposta faz com que o desmembramento ocorra de forma muito mais facilitada e propositiva. Isso faz com que acreditemos que o desmembramento será viável.

Região Tocantina – E qual o modelo que se deseja para esta nova universidade?

Marco Gehlen – Enxuto. Não faz sentido criarmos, hoje, uma universidade com dezenas de pró-reitorias, criando uma gestão ampliada e pouco eficiente, em um momento de explícita restrição de orçamento. As primeiras ideias estudadas pela Comissão de Estruturação do Projeto da nova UF, ligada ao Movimento Nova Federal Maranhão, chegam a sugerir apenas três pró-reitorias (ainda em franca discussão), com diretorias específicas capazes de bem distribuir e atender às demandas universitárias. Isso não foi pensado aleatoriamente, claro. A Comissão do Movimento tem levantado modelos universitários no mundo e, principalmente, nas novas universidades recentemente criadas ou desmembradas no Brasil para encontrar um modelo mais ajustado ao nosso cenário e às nossas características e demandas regionais.


Região Tocantina – Existe um movimento organizado que luta para que isso aconteça?

Marco Gehlen – Além dos movimentos políticos, o Movimento Nova Federal Maranhão possui hoje capilaridade, ainda crescente, nos municípios de Balsas, Grajaú e Imperatriz. Ele tem buscado apoio de entidades diversas, não apenas nesses municípios, mas em outros da região. A comunidade acadêmica, um pouco descrente diante das últimas propostas e movimentos, parece voltar aos poucos a reconhecer a possibilidade de criação da nova UF. Então, eu diria que o Movimento Nova Federal Maranhão, hoje, com suas ações pontuais, é o maior aglutinador dessa organização pró-nova federal. Mas obviamente há muito por ser feito e muito apoio a ser conquistado dentro e fora da universidade.

Região Tocantina – É possível que, com uma nova universidade federal por aqui, novos cursos apareçam e novos municípios sejam beneficiados?

Marco Gehlen – Não só é possível, como será real. A autonomia pretendida é, inclusive e principalmente, para aproveitamento das potencialidades regionais, fazendo com que docentes, técnicos e alunos da região possam participar de processos de criação de programas, pesquisas e cursos com mais identidade às demandas locais e regionais. O Movimento já tem levantado novos cursos possíveis, mas, no longo prazo, cursos e até novos municípios devem ser foco de mais atenção, claro, além do fortalecimento do que já existe. Por isso entidades diversas e de várias cidades já apoiam o Movimento e a nova UF. Os benefícios serão, inevitavelmente, coletivos. Precisamos nos preparar, então, para participar dos processos de criação, não ficando à margem de discussões sobre isso que tanto no importa. E precisamos também continuar apoiando boas ideias, sem inocência político-partidária, claro, mesmo que no passado algumas tenham sido só promessas eleitoreiras. Logo encontraremos um caminho para tornar viável um bom projeto. E estamos buscando, com o Movimento, contribuir e participar de alguma forma, com estudos, pesquisas e organização. Nesse sentido, convido também quem se interesse em participar a encontrar nossos canais de comunicação via site do Movimento: www.novafederalmaranhao.com.br .

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